Ortografistas e "Bons Autores": o papel da Auctoritas na definição do Cânon Ortográfico de Setecentos

Autores

  • Ana Paula Banza Universidade de Évora; Centro Interdisciplinar de História, Culturas e Sociedades

Resumo

A conceção instrumental de Gramática – fortemente conservadora e normativa, com origem nos gramáticos Alexandrinos e que se prolongaria até ao séc. XX – prolongou também o papel de relevo dos chamados “bons autores” na definição do cânon gramatical, incluindo a ortografia, o que se justifica atendendo a que, além da regulamentação do comportamento linguístico, esta conceção instrumental compreendia também o acesso aos textos literários. No entanto, à semelhança dos próprios gramáticos e ortografistas, estes “bons autores”, entre os quais se destaca Vieira, primam pela irregularidade e pela tendência para a constituição de ortografias individuais. A partir da prática de alguns dos autores mais relevantes na literatura metalinguística de Setecentos, em particular João de Morais Madureira Feijó (1688-1741) e Francisco José Freire (1719-1773), analisa-se o papel de auctoritates dos “bons autores” no estabelecimento do cânon ortográfico da época e a forma como este papel começaria a alterar-se, particularmente em Madureira Feijó, antecipando, assim, o seu declínio.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

Auroux, Sylvain (Dir.). 1992. Histoire des idées linguistiques, t2: Le développement de la grammaire occidentale. Liège: Pierre Mardaga.

Bacelar, Bernardo de Lima e Melo 1783. Grammatica Philosophica e Orthographia Racional da Lingua Portugueza, para se pronunciarem e escreverem com acerto os vocábulos d’este idioma. Lisboa: na oficina de Simão Thadeo Ferreira.

Banza, Ana Paula 2012a. As Reflexões (1768) de Francisco José Freire e o Vocabulário (1712- 1728) de Bluteau. In: Cestero Mancera, Ana M. et al (Eds.). La lengua, lugar de encuentro. Actas del XVI Congreso Internacional de la Alfal (Alcalá de Henares, 6-9 de junio de 2011).

Alcalá de Henares: Servicio de Publicaciones de la Universidad de Alcalá, 2485- 2494. Publicación en CD.

Banza, Ana Paula 2012b. Reflexão metalinguística no séc. XVIII: o caso das Reflexões sobre a Língua Portuguesa, de Francisco José Freire”. In: Kemmler, Rolf, Schäfer- Prieβ, Barbara, Schontag, Roger (Eds.), Lusofone SprachWissenschaftsGeschichte I,Tübingen: Calepinus Verlag, 7-20.

Banza, Ana Paula 2013. Reflexões sobre a pronunciação no séc. XVIII português. In: Val Álvaro, José Francisco et al (Eds.). 2012. De la unidad del lenguaje a la diversidad de las lenguas. Actas del X Congreso Internacional de Lingüística General (Zaragoza 2012). Zaragoza: Universidad de Zaragoza, 56-65. Publicación en CD. Disponível em: http://hdl.handle.net/10174/9225.

Banza, Ana Paula 2015. A questão do empréstimo nas Reflexões sobre a Língua Portuguesa (1768), de Francisco José Freire. In: Kemmler, Rolf , Schäfer-Prieβ, Barbara, Schontag, Roger (Eds.). 2015. Lusofone SprachWissenschaftsGeschichte II. Tübingen: Calepinus Verlag, 5-19.

Cardoso, Francisco Nunes 1788. Arte ou Novo Methodo de ensinar a ler a Lingua Portugueza, a que se proporciona hum novo systema da sua orthografia. Lisboa: na Oficina de Simão Taddeo Ferreira.

Chapansky, Gissele 2003. Uma tradução de Tékhne Grammatiké, de DionísioTrácio, para o português. Dissertação de Mestrado em Linguística — Faculdade de Letras, Universidade Federal do Paraná, Curitiba.

Cunha, João Pinheiro Freire da 1770. Breve Tractado de Orthographia. Lisboa.

Espírito Santo, Arnaldo do, Pimentel, Maria Cristina & Banza, Ana Paula 2008. Sermões I, de Padre António Vieira. Edição crítica. Lisboa: CEFi/IN-CM.

Feijó, João de Morais Madureira 1734. Orthographia ou Arte de escrever e pronunciar com acerto a Lingua Portugueza. Lisboa Occidental: na Officina de Miguel Rodrigues. Disponível em: http://purl.pt/13.

Freire, Francisco José 1842 [1768]. Reflexões sobre a Lingua Portugueza, escriptas por Francisco José Freire, publicada com algumas annotações pela Sociedade Propagadora dos Conhecimentos Uteis. Lisboa: Typographia da Sociedade Propagadora de Conhecimentos Uteis. Disponível em: http://purl.pt/135.

Gonçalves, Maria Filomena & Banza, Ana Paula 2013. Fontes Metalinguísticas para o Português Clássico – O caso das Reflexões sobre a Lingua Portugueza. In: Gonçalves, Maria Filomena & Banza, Ana Paula (Coord.). 2013. Património Textual e Humanidades Digitais: da antiga à nova Filologia. Évora: CIDEHUS (série E-BOOKS, nº 1), 73-111. Disponível em: http://hdl.handle.net/10174/10468.

Gonçalves, Maria Filomena 1992. Madureira Feijó, Ortografista do séc. XVIII. Para uma História da Ortografia Portuguesa. Lisboa: ICALP.

Gonçalves, Maria Filomena 1996. Antigas Ortografias portuguesas e paralexicografia no século XVIII. Alfa. São Paulo. 40. 103-117.

Gonçalves, Maria Filomena 2003. As ideias ortográficas em Portugal: de Madureira Feijó a Gonçalves Viana (1734-1911). Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian; Fundação para a Ciência e Tecnologia.

Lima, D. Luís Caetano de 1736. Orthographia da Lingua Portugueza. Lisboa Occidental: na Officina de Antonio Isidoro da Fonseca. Disponível em: http://purl.pt/8.

Marquilhas, Rita 1991. Norma Gráfica Setecentista. Do Autógrafo ao Impresso. Lisboa: INIC.

Marquilhas, Rita 2000. A Faculdade das Letras. Leitura e escrita em Portugal no séc. XVII. Lisboa: IN-CM.

Monte Carmelo, Frei Luís do 1767. Compendio de Orthographia com sufficientes catalogos, e novas regras, para que em todas as Provincias, e Dominios de Portugal, possam os curiosos comprehender facilmente a Orthologia, e Prosódia, isto he, a recta pronunciaçam, e accentos proprios, da Lingua Portugueza : accrescentado com outros novos Catalogos, e explicaçam de muitos Vocabulos antigos, e antiquados, para intelligencia dos antigos escritores portuguezes. Lisboa: na Officina de António Rodrigues Galhardo. Disponível em: http://purl.pt/9.

Nogueira, Rodrigo de Sá (Ed.). 1933. Grammatica da lingoagem portuguesa por Fernão de Oliveira (1536). 3ª. Ed. Feita de harmonia com a primeira. Lisboa: José Fernandes Júnior.

Souto-Maior, Francisco Félix Carneiro 1783. Orthographia da lingua portugueza, ou regras para escrever certo. Ordenadas para uso de quem se quiser applicar. Lisboa: Francisco Luís Ameno.

Tavani, Giuseppe 1987. Antecedentes históricos: a ortografia da língua portuguesa. In: Castro, Ivo et al (Orgs.). 1987. A Demanda da Ortografia Portuguesa. Comentário do Acordo Ortográfico de 1986 e subsídios para a compreensão da Questão que se lhe seguiu. Lisboa: Sá da Costa.

Downloads

Publicado

2017-04-21