Concatenação de afixos em Bantu: algumas leituras a partir da Fonologia Lexical

Autores

  • Vasco Magona Faculdade de Letras e Ciências Sociais da Universidade Eduardo Mondlane
  • Francelino Wilson Universidade Púnguè; Centro de Linguística da Universidade do Porto

Resumo

As línguas Bantu de Moçambique exibem um comportamento gramatical distinto do português, com quem convivem. A morfologia nominal é um dos domínios que oferece diferenças notáveis de funcionamento entre essas línguas. Este trabalho tem por objeto os afixos em Bantu, i.e., prefixos nominais, sufixos e circunfixos locativos das línguas ciyaawo (P21), xichangana (S53) e emakhuwa (P31), faladas no Norte (caso de ciyaawo e emakhuwa) e Sul (xichangana) do país. A partir do aporte teórico da Fonologia Lexical clássica (Kiparsky 1982 e Mohanan 1982) e do modelo de Booij & Rubach (1987), procura-se compreender o comportamento de morfemas que se ligam a temas nominais e, com isso, determinar a ocorrência de processos e restrições morfofonológicas decorrentes do entrelaçamento entre a morfologia e a fonologia. Os dados analisados foram obtidos de uma base de dados pessoal construída através de instrumentos de recolha de vocabulário básico do Núcleo de Estudos de Línguas Moçambicanas (NELIMO), aplicados a estudantes do ensino superior, entre os anos de 2013 e 2017, por um lado, e de duas fontes secundárias (Langa 2012 e Ngunga 2014), por outro. Os resultados da pesquisa parecem confirmar a existência de dois componentes do léxico, designadamente, a. o cíclico – aonde atuam regras morfológicas, e b. o pós-cíclico – aonde atuam regras fonológicas, tal como proposto por Booij & Rubach (1987).

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

Alfândega, P. (2014). A locativização em Cisena. In: A. Ngunga (Ed.), Temas de Gramática de Línguas Bantu I (pp. 115-135). Centro de Estudos Africanos/UEM.

Avelar, J., & Cyrino, S. (2008). Locativos preposicionados em posição de sujeito: uma possível contribuição das línguas bantu à sintaxe do português brasileiro. Revista de Estudos Linguísticos da UP, 3, 55-75.

Bernardo, M. (2017). Análise fonológica da estrutura verbal do passado recente em emakhuwa [Dissertação de Mestrado]. Universidade Eduardo Mondlane.

Bisol, L. (2005). Fonologia lexical. In: L. Bisol (Org.), Introdução a estudos de fonologia do português brasileiro (4ª ed.) (pp. 82-100). EDIPUCRS.Bisol, L. (2017). Fonologia lexical. In: D. da Horta, & C. L. Matzenauer (Orgs.), Fonologia, fonologias: uma introdução (pp. 81-92). Editora Contexto.

Bleek, W. H. I. (1856). The language of Mosambique. Harrison & Sons.

Bleek, W. H. I. (1862). A comparative grammar of south Africa. Trübner & Co.

Booij, G., & Rubach, J. (1987). Postcyclic versus postlexical rules in lexical phonology. Linguist Inquiry, 18(1), 1-44.

Bostoen, K., & van de Velde, M. (2019). Introduction. In: D. Nurse, & G. Phillipson, The bantu language (pp. 1-15). Routledge.

Bresnan, J. (1994). Locative inversion and the architecture of universal grammar.Language, 72-131.

Chimbutane, F. (2009). The purpose and value of bilingual education: A critical, linguistic ethnographic study of two rural primary schools in Mozambique [PhD Thesis]. The University of Birmingham.

Chomsky, N., & Halle, M. (1968). The Sound Pattern of English. Harper & Row.

Collischonn, G. (2002). Fonologia Lexical e Pós-lexical e TO. Letras de Hoje, 37(1), 183-187.

Dimande, E., & Chimbutane, F. (2022). Reexaminando o prefixo nominal da classe 5 na língua ronga. Domínio da Linguagem, 16 (2), 870-899.

Doke, C. M. (1954). The Southern Bantu Language. Oxford University Press.

Gonçalves, C. A. (2013). Interface morfologia-fonologia: teoria, abordagem e t emas. Cadernos de L etras da U FF-Dossi ê: língua e m uso, 23(7), 333-355.

Gonçalves, P., & Chimbutane, F. (2004). O papel das línguas bantu na gênese do português de Moçambique: o comportamento sintático de constituintes locativos e direcionais. Papia, 14, 7-30.

Greenberg, J. H. (1963). Language of Africa.The hague.

Guthrie, M. (1967). Comparative Bantu: An Intr oduction to the Comparative Linguistics and Prehistory of the Bantu Languages. GreggInternational.

Hyman, L. (1985). A Theory of Phonological Weight. FORIS Publication.

Kaisse, E . M., & S haw, P . (1985). On the t heory of lexical phonology. I n: C. Ewen, & J. Anderson, Phonology Yearbook(vol. 2) (pp. 1-30). Cambridge University Press.

Kiparsky, P. (1982). Lexical morphology and phonology: lin guistic in the morning calm. Hanshin Publishing Company.

Kisseberth, C. W., & Cassimjee, F. (2009). The Emakhuwa Lexicon ExempliƝed.

Kisseberth, C. W., & Odden, D. (2003). Tone. In: D. Nurse, & G. Phillipson, The bantu language (pp. 59-70). Routledge.

Langa, D. (2012). Morfofonologia do verbo em changana [Tese de Doutoramento]. Universidade Eduardo Mondlane.

Langa, D., & Magona, V. (em preparação). Mapeamento Lexical dos PreƝxos Primários e Secundários em Bantu.

Lee, S. H. (1992). Fonologia Lexical do português. Cadernos de estudoslinguísticos, 23, 103-120.

Lee, S. H. (1995). Morfologia e Fonologia do Português do Brasil [Tese de Doutoramento]. Universidade Estadual de Campinas.

Lee, S. H. (1996). Fonologia Lexical: Modelos e Princípios. Letras hoje, 31 (2), 129-137.

Magona, V. (2014). Diminutivização Morfológica dos Nomes pertencentes às Classes 1 a 6 em Ciyaawo. In: A. Ngunga (Ed.), Temas de Gramática de Línguas Bantu I (pp. 136-154). Centr o de EstudosAfricanos/UEM.

Maho, J. (2003). A classiƝcation of the bantu languages: an update of Guthrie’s referentia l system. In: Phillipson, G. (2003), The bantu language (pp. 639-641). Routledge.

Maho, J. F. (2009). NUGL Online: The oniline verson of the new update Guthrie’s lis t a referencial classiƝcation of the Bantu language. Citeseerx. http://citeseerx.ist.psu.edu/viewdoc/download;jsessionid=C698C04A6EAEBC5F6A50FCED424565B0?doi=10.1.1.603.6490&rep=rep1&type=pdf

Mateus, M. H. M. (2003). Fonologia. In: M. H. M. Mateus, A. M. Brito, I. Duarte, I. H. Faria, S. Frota, G. Matos, F. Oliveira, M. Vigário, & A. Villalva (Eds.), Gramática da Língua Portuguesa (pp. 987-1033). Caminho.

Meinhof, C. (1906). Introduction to the phonology of bantu languages. University of Gutemberg Press.

Migliorini, L., & Massini-Cagliari, G. (2011). A Epêntese Vocálica no Português Brasileiro: Regras Lexical ou Pós-lexical? Todas as Letras Q, 13(1), 72-84.

Mohanan, K. P. (1982). The theory of lexical phonology[PhD Thesis]. MIT.

Mohanan, K. P. (1986). The Theory of Lexical Phonology. Foris.

Mutaka, N. M, & Tamanji, P. N. (2000). An introduction to african linguistic. Lincom Europa.

Ngunga, A. (2002). Elementos da gramática da língua yao. Livraria Universitária.

Ngunga, A. (2014). Introdução à linguística bantu. Imprensa Universitária.

Ngunga, A., & Faquir, O. (2011). Padronização da ortografia das línguas moçambicanas: relatório do III seminário.CIEDIMA.

Ngunga, A.; Manuel, C.; Langa, D.; Machungo, I., & da Câmara, C. L. (2022). Padronização da Ortografia das Línguas Moçambicanas: Relatório do IV Seminário. Centro de Estudos Africanos/UEM.

Nurse, D. (2018). Tense and aspect in bantu. Oxford Press.

Nurse, D., & Phillipson, G. (2003). The bantu language. Routledge.

Odden, D. (1986). On the role of the obligatory contour principle in phonological theory. Language, 62, 353-383.

Phillipson, D. W. (1977). The later prehistory of Eastern and Southern Africa. Heinemann Educational Books.

Reylly, C. (2016). Language use and language attitudes in Malawian Universities [MPhil Thesis]. University of Glasgow.

Reylly, C. (2019). Language in Malawian Universities: an investigation into language use and language attitude amongst students and staff [PhD Thesis]. University of Glasgow.

Sanderson, M. (1922). A yao gramamr. Society for Promoting Christian Knowledge.

Schwindt, L. C. (2001). O prefixo no português brasileiro: análise prosódica e lexical. Delta, 17(2), 175-207.

Sitoe, B. (1996). Dicionário Changana-Português. Instituto Nacional do Desenvolvimento da Educação.

Taji, J. (2014). Grammatical relation in chiyao. Foreign Study, 42, 149-177.

Taylor, A. (2020). A short language profile for Chichewa and the need for datasets. Researchgate.https://www.researchgate.net/publication/343282582_A_short_language_profile_for_Chichewa_and_the_need_for_datasets

Van de Velde, M. (2019). Nominal morphology and syntax. In: M. Van de Velde; D. Nurse & G. Phillipson, The Bantu Languages (2nd ed.) (pp. 237-269). Routledge.

Vannest, J., & Boland, J. E. (1999). Lexical morphology and lexical access. Brain and Language, 68(1-2), 324–332.

Wilson, F. & Magona, V. (2017). Uma análise autossegmental de /s/ em raízes verbais do ciyaawo contemporâneo. In: A. G. Bautista, L. de C. Moutinho & R. L (Coords.), Ecolinguismo e Línguas Minoritárias (pp. 49-58). UA Editora.

Wilson, F., & Magona, V. (2022, 9-10 de agosto, pc, em preparação). Alguns processos fonológicos decorrentes da transição de classes nominais em Ciyaawo. II Seminário de Ciências da Linguagem ‘Línguas e conhecimento científico: desafios para além do ensino de línguas’, Maputo, Moçambique.

Downloads

Publicado

2024-02-10