Variação do Imperativo de 2ª pessoa em Enunciados de Provas da Escola de Formação de Professores Ferraz Bomboco (Huambo, Angola)

Autores

  • António Kingui da Silva Universidade de Évora
  • Célia Lopes Universidade Federal do Rio de Janeiro
  • Paulo Osório Universidade da Beira Interior

Resumo

O presente artigo tem como objetivo fazer um estudo sociolinguístico da variação das estratégias de imperativo afirmativo de segunda pessoa (forma de segunda pessoa (2P) e forma de terceira pessoa (3P), Escreve (tu) vs. Escreva (você/o senhor) nos enunciados de provas produzidas por professores angolanos da Escola de Formação de Professores Ferraz Bomboco, da província do Huambo. Pretendemos, deste modo, identificar os fatores que favorecem o uso das formas variantes do imperativo, com base nas pesquisas sobre o tema desenvolvidas, principalmente, para o português do Brasil. A nossa hipótese é de que o imperativo na forma de 3P estará mais presente em textos escritos de natureza não-dialógica, no caso dos enunciados de provas, por se tratar de textos controlados e monitorados. Tivemos, igualmente, em consideração a Sociolinguística Laboviana (Labov, 1972), como suporte teórico. Como ferramenta metodológica, utilizámos o programa estatístico Goldvarb-X (Sankoff; Tagliamonte; Smith, 2005), com o objetivo de nos auxiliar na análise quantitativa dos dados da amostra. Quanto aos fatores estruturais, os resultados mostraram que o grupo de fatores “regularidade dos verbos” se mostrou relevante na análise multivariada, como apresentou Scherre (2002) para o português brasileiro. Os verbos regulares menos marcados favoreceram o imperativo- forma de 2P, ao passo que os verbos irregulares mais marcados motivaram imperativo-forma de 3P. Quanto aos fatores extralinguísticos, os resultados observados mostram que o modo imperativo na forma de 3P se apresenta com maior ocorrência nos enunciados de provas de língua portuguesa e de empreendedorismo, enquanto, em outras disciplinas, houve maior variação das duas estratégias imperativas, possivelmente trazendo ao de cima o vernáculo de professores e alunos.

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Publicado

2020-01-22