O Futuro Simples em Português Europeu: entre a temporalidade e a modalidade
Resumo
No presente artigo procuro descrever algumas das propriedades semânticas que caracterizam o Futuro Simples em Português Europeu. Tomando como ponto de partida um conjunto de exemplos retirados do corpus CETEMPúblico, defendo a ideia de que o Futuro Simples veicula importante informação de cariz modal, em particular em contextos em que se assume a presença de uma oração condicional implícita, em que o conhecimento partilhado pelos participantes na conversação desempenha um papel relevante ou em que ocorrem leituras conjeturais ou hipotéticas que favorecem uma relação de sobreposição ao momento da enunciação. No entanto, como procuro demonstrar, a informação de natureza temporal é igualmente relevante para a caracterização semântica desta forma verbal, na medida em que o Futuro Simples se revela perfeitamente compatível com contextos que exprimem certeza, factos previsíveis e a localização precisa de situações futuras. Para além disso, observo que fatores aspetuais parecem impor importantes restrições a alguns dos valores modais considerados. No sentido de acomodar a sua natureza complexa, advogo em favor de uma análise para o Futuro Simples que envolva simultaneamente as suas dimensões temporais e modais interagindo dinamicamente entre si.
Downloads
Referências
Condoravdi, C. 2003. Moods and modalities for will and would. Comunicação apresentada ao Colóquio de Amsterdão. Citada em Mari (2009).
Cunha, L. F. 1998. As Construções com Progressivo no Português: uma Abordagem Semântica. Dissertação de Mestrado, Porto, Faculdade de Letras da Universidade do Porto.
Cunha, L. F. 2004. Semântica das Predicações Estativas: para uma Caracterização Aspectual dos Estados. Dissertação de Doutoramento, Porto, Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Publicado em 2007, Munique, Lincom Europa.
Cunha, L. F. 2006. Frequência vs. habitualidade: distinções e convergências. In Actas del XXXV Simpósio Internacional de la Sociedad Española de Lingüística. León: Sociedad Española de Lingüística, 333-357. Disponível online em http://www3.unileon.es/dp/dfh/SEL/actas/Cunha.pdf
Cunha, L. F. 2012. Frequentative and habitual structures: similarities and differences. In C. Schnedecker & C. Armbrecht (eds.), La Quantification et ses Domains – Actes du Colloque de Strasbourg. Paris: Honoré Champion Éditeur, 339-352.
Dowty, D. 1979. Word Meaning and Montague Grammar. Dordrecht: Reidel Publishing Company.
Falaus, A. & Laca, B. 2014. Les formes de l’incertitude. Le futur de conjecture en espagnol et le présomptif futur en roumain. Revue de Linguistique Romane, 78: 313-366.
Gennari, S. 2000. Semantics and pragmatics of future tenses in Spanish. In Hispanic Linguistics at the Turn of the Millennium, 264-281.
Gennari, S. 2002. Spanish past and future tenses: less (semantics) is more. In J. Gutiérrez-Rexach (ed.), From Words to Discourse: Trends in Spanish Semantics and Pragmatics. Amsterdam: Elservier, 21-36.
Giannakidou, A. & Mari, A. 2013. A two dimensional analysis of the future: modal adverbs and speaker’s bias. In Proceedings of the Amsterdam Colloquium 2013, 115-122.
Giannakidou, A. & Mari, A. 2018. A unified analysis of the future as epistemic modality. Natural Language & Linguistic Theory, 36 (1): 85-129.
Kamp, H. & Reyle, U. 1993. From Discourse to Logic. Introduction to Model-Theoretic Semantics of Natural Language, Formal Logic and Discourse Representation Theory. Dordrecht: Kluwer Academic Publishers.
Kamp, H. & Rohrer, C. 1983.Tense in texts. In R. Bauerle, C. Schwarze & A. von Stechow (eds.), Meaning, Use and Interpretation of Language. Berlim: Walter de Gruyter, 250-269.
Katz, E. 1995. Stativity, Genericity and Temporal Reference. Dissertação de Doutoramento, University of Rochester, Department of Linguistics.
Kratzer, A. 1981. The notional category of modality. In H. J. Eikmeyer & H. Rieser (eds.) Words, Worlds and Contexts. New Approaches in World Semantics. Berlim: de Gruyter, 38-74.
Laca, B. 2016. Variación y semántica de los tiempos verbales: el caso del futuro. Working paper disponível online em https://hal.archives-ouvertes.fr/hal-01533046/
Mari, A. 2009. Disambiguating the Italian future. In Proceedings of Generative Lexicon, 209-216.
Martin, R. 1981. Le futur linguistique: temps linéaire ou temps ramifié? (à propos du futur et du conditionnel français). Langages, 64: 81-92.
Móia, T. 2017. Aspetos da gramaticalização de ir como verbo auxiliar temporal. Revista da Associação Portuguesa de Linguística, 3: 213-239.
Oliveira, F. 1986. O Futuro em Português: alguns aspectos temporais e/ou modais. In Actas do I Encontro Nacional da Associação Portuguesa de Linguística. Lisboa: Associação Portuguesa de Linguística, 353-374.
Oliveira, F. & Mendes, A. 2013. Modalidade. In E. P. Raposo, M. F. B. do Nascimento, M. A. Mota, L. Segura & A. Mendes (orgs.), Gramática do Português, Vol. I. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 623-672.
Portner, P. 2009. Modality. Oxford: Oxford University Press.
Rocci, A. 2000. L’interprétation épistémique du futur en italien et en français: une analyse procédurale. Cahiers de Linguistique Française, 22: 241-274.
Silva, A. 1997. A Expressão da Futuridade na Língua Falada. Dissertação de doutoramento, Campinas, São Paulo: Universidade Estadual de Campinas – Instituto de Estudos da Linguagem.
Stage, L. 2002. Les modalités épistémique et déontique dans les énoncés au futur (simple et composé). Revue Romane, 37 (1): 44-66.
Downloads
Publicado
Edição
Secção
Licença
Direitos de Autor (c) 2020 Linguística: Revista de Estudos Linguísticos da Universidade do Porto

Este trabalho encontra-se publicado com a Creative Commons Atribuição-NãoComercial 4.0.