Unidades monoverbais e pluriverbais: diacronia e tratamento informático no corpus metalinguístico do português quinhentista
Resumo
Quando se aborda o estudo linguístico de épocas em que a variação atinge a palavra, é indispensável conceituar essa unidade. Considerando que a questão ganha em ser reexaminada no âmbito de uma língua determinada, neste caso o português, na primeira parte do artigo analisam-se os critérios habitualmente retidos ou considerados relevantes na definição de ‘palavra’: menciona-se o nível prosódico como não descurável mas também não susceptível de fornecer critérios decisivos (1.1), discutem-se as definições de Bloomfield (1.2) e de Meillet (1.3), avalia-se a eficácia do critério de impossibilidade de inserção (1.4), tendo em conta o futuro e o condicional (1.4.1) e os advérbios em – ente (1.4.2), depois do que passa a interrogar-se a diacronia (1.5). Considera-se que, na relação entre o português e o latim a nível do vocábulo, são discerníveis três derivas: a permanência do vocábulo lexical (1.5.1) que, no plano fonológico, se caracteriza pela impermeabilidade ao contexto, o que atesta a mobilidade da palavra (1.5.1.1); a consolidação da alomorfia contextual, que afecta, artigo e pronome e outros morfemas dependentes (1.5.2) e a caducidade do vocábulo funcional (1.5.3), em parte substituído por unidades pluriverbais, em que frequentemente se dão fenómenos de gramaticalização e em que se distinguem gradações de diversos tipos (1.5.3.1). Na segunda parte indaga-se sobre o modo como se projectam os conteúdos definidos anteriormente nos textos dos gramáticos e ortógrafos quinhentistas: depois da caracterização do corpus e da síntese do tratamento informático a que este foi submetido (2.1), aborda-se o delineamento do percurso que vai da palavra gráfica à palavra propriamente dita, explicitando os princípios metodológicos aplicados (2.2). São passados em revista diversos tipos de delimitações (2.2.1): rupturas (2.2.1.1), junções simples (2.2.1.2), junções com elisão ou crase (2.2.1.3), a que se segue a descrição da introdução e do uso do apóstrofo (2.2.1.4) e do traço de união (2.2.1.5). Na terceira parte são definidas identidades e diferenças entre palavra e unidades pluriverbais; começa-se por uma retrospectiva crítica (3.1) sobre a adequação dos diferentes conceitos de palavra às especificidades da sua representação gráfica e às soluções tentadas pelos gramáticos ao longo do período e/ou fixadas na norma gráfica. As unidades pluriverbais (3.2), são tratadas numa primeira vertente, em que se estuda a trajectória que consiste na transformação de unidades pluri- verbais em palavras, e se distinguem diferentes graus de coesão interna (3.2.1); e numa segunda, em que se descreve a trajectória inversa, da palavra à unidade pluriverbal, mediante a selecção dos aspectos mais directamente relacionados com o tratamento informático do corpus (3.2.2).
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