Os jogos de linguagem e a aquisição de uma «competência humorística» em PLE

Autores

  • Margarida Mouta Faculdade de Letras da Universidade do Porto

Resumo

A vertente lúdica e criadora da transgressão das normas do “bom uso” do código verbal convida à exploração de zonas da linguagem onde o implícito reina e o humor se realiza. A lógica transgressora do humor verbal projecta-nos para lá dos limites impostos pelas formas estabelecidas que determinam a legibilidade do mundo. O universo onde, pela via dessa lógica nos instalamos, é o universo inquietante da descoberta lúdica em que a cada passo nos confrontamos com produções em que o sentido se perturba. Com este estudo pretende-se apresentar uma análise de alguns aspectos do funcionamento do humor verbal presente em jogos de linguagem e a descrição de alguns dos mecanismos linguísticos e discursivos que lhe estão subjacentes, na tentativa de dar conta das implicações que um certo trabalho sobre a língua pode ter na obtenção do prazer proporcionado pelo jogo. Um jogo que, inscrevendo-se no funcionamento da linguagem, a pressupõe como algo mais que um meio de comunicação permitindo a abertura para além das fronteiras do instituído e garantindo a libertação dos comportamentos sociais (mas também linguísticos) rigorosamente vigiados pelos códigos do senso comum vigente ou padronizado. A concluir, sublinha-se o efeito benéfico que o riso através da linguagem verbal pode exercer sobre os aspectos pragmáticos da comunicação no contexto da aprendizagem de uma LE quer ao nível da recepção quer ao nível da (desejável) produção de enunciados humorísticos. Deste postulado advém a necessidade de dotar os aprendentes de uma competência “humorística” capaz de os levar a interagir com eficácia perante os desafios que a língua portuguesa generosamente coloca a todos aqueles que se dispõem a descobri-la nos seus implícitos e jogos de ambiguidade e a deixarem-se enredar nas práticas criativas que ela astuciosamente lhes permite.

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Publicado

2018-05-16