É morfologia?

Autores

  • Maria Carlota Rosa Universidade Federal do Rio de Janeiro

Resumo

O artigo focaliza as duas características que levam a questionar se processos que empregam a supressão de material das palavras-base estão ou não no âmbito da morfologia: a não-universalidade e a intencionalidade. Os dois processos com tais características arrolados na literatura lingüística são o cruzamento vocabular ou amálgama e a acronímia ou siglação. A não-universalidade desses processos deriva da necessidade de a língua contar com um sistema de escrita fonológico para que possam surgir. A intencionalidade está ligada à busca de eufonia. Ambas as características levam diversos autores a retirar tais processos do campo da morfologia, ou a deixar em aberto a questão, ou ainda sugerir que são morfologia, mas improdutiva. Por mais freqüentes que se venham tornando as siglas e os cruzamentos em diferentes línguas, entre elas o português, são processos que não produzem formações cujo significado seja composicional. Sua estrutura é opaca. Levada em conta, porém, uma definição de morfologia como representação do sistema mental envolvido na formação de palavras (Aronoff & Fudeman, 2005: 239), não há como negar que a probabilidade de uma sigla, especialmente um alfabetismo, ser aceita em português é alta, o que coloca praticamente qualquer seqüência assim formada no campo das palavras potenciais. Nessa perspectiva, é estranho não aceitar tais processos na morfologia.

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Publicado

2017-07-19