Quantas sílabas tem “cháv(e)na”? Sobre o impacto dos apagamentos vocálicos na segmentação silábica de crianças no ensino pré-escolar
Resumo
No presente estudo, é discutida a natureza da informação linguística processada durante o desempenho de tarefas de consciência fonológica: (i) conhecimento fonológico, presente nas representações fonológicas armazenadas no léxico mental; (ii) informação fonética, disponível no sinal acústico dos estímulos fornecidos às crianças. Para tal, foi observado o comportamento de 23 crianças portuguesas (média etária: 5;04) a frequentar um estabelecimento do Ensino Pré-Escolar, no sentido de anular eventuais efeitos das representações ortográficas no desempenho da tarefa proposta. As crianças foram submetidas a uma prova de segmentação silábica de palavras, que incluía 19 estímulos distratores e 7 estímulos-alvo, apresentados com e sem apagamento de vogais átonas passíveis de serem suprimidas em contexto de fala espontânea. Os resultados mostraram não ser possível identificar apenas um tipo de processamento linguístico aquando da segmentação dos estímulos apresentados (acesso a representações fonológicas ou acesso a propriedades acústicas). Os resultados obtidos, nomeadamente os relativos a erros na segmentação dos estímulos presentes no instrumento, levaram-nos a colocar a hipótese da ativação de diferentes vias concorrentes no processamento de tarefas de consciência fonológica: acesso à representação fonológica; acesso à informação acústica; acesso a representações de diferentes formatos fonéticos possíveis para uma mesma entrada lexical.
Downloads
Referências
Afonso, C. 2008. Complexidade prosódica e segmentação de palavras em crianças entre os 4 e os 6 anos. Dissertação de Mestrado, Universidade Católica Portuguesa.
Afonso, C. (em prep.). Complexidade Prosódica e Consciência Fonológica no Pré- Escolar e no 1.º Ciclo do Ensino Básico. Dissertação de Doutoramento inscrita na Universidade de Lisboa.
Alves, D., Castro, A. & Correia, S. 2010. Consciência fonológica – dados sobre consciência fonémica, intrassilábica e silábica. In A. M. Brito, F. Silva, J. Veloso e A. Fiéis (Eds.). Textos Seleccionados do XXV Encontro Nacional da Associação Portuguesa de Linguística. Porto: APL, 169-184.
Andreazza-Balestrin, C., Cielo, C.A. & Lazzarotto, C. 2008. Relação entre desempenho em consciência fonológica e a variável sexo: um estudo com crianças pré-escolares. Revista da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia, 13(2), 154-160.6
Bernhardt, M. & Stemberger, J. 1998. Handbook of phonological development from the perspective of constraint-based nonlinear phonology. San Diego: Academic Press.
Bourassa, D. & Treiman, R. 2001. Spelling development and disability: The importance of linguistic factors. Language, Speech and Hearing Services in Schools, 32, 172-181. Bruck, M. 1992. Persistence of Dyslexics’ Phonological Awareness Deficits. Developmental Psychology, 28 (5), 874-886.
Carroll, J. M., Snowling, M. J., Hulme, Ch. & Stevenson, J. 2003. The development of phonological awareness in pre-school children. Developmental Psychology, 39, 913- 923.
Castelo, A. 2012. Competência Metafonológica e Sistema Não Consonântico no Português Europeu: Descrição, Implicações e Aplicações para o Ensino do Português como Língua Materna. Tese de Doutoramento. Universidade de Lisboa.
Castles, A., V. M. Holmes, J. Neath & S. Kinoshita 2003. How does orthographic knowledge influence performance on phonological awareness tasks? The Quarterly Journal of Experimental Psychology – Section A, 56 (3), 445-467.
Cielo, C. A. 2001. Habilidades em consciência fonológica em crianças de 4 a 8 anos de idade. Curso de pós-graduação em Letras. Rio Grande do Sul: Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul.
Delgado-Martins, R. 1975/2002. Percepção do acento em Português. Fonética do Português. Trinta Anos de Investigação. Lisboa: Editorial Caminho, 65-74.
Ehri, L. C. & Wilce, L. S. 1980. The influence of orthography on readers’ conceptualization of the phonemic structure of words. Applied Psycholinguistics, 1, 371–385.
Fikkert, P. 1994. On the Acquisition of Prosodic Structure. Leiden: Holland Institute of Generative Linguistics.
Fikkert, P. 2005. Getting sound structures in mind. Acquisition bridging linguistics ans psychology. In A. Cutler (org.s) Twenty-First Century Psycholinguistics: Four Cornerstones . Lawrence Erlbaum Associates, 43-56.
Fikkert, P. 2010. Developing representations and the emergence of phonology: evidence from perception and production. Laboratory Phonology 10. Berlin, NY: Mounton de Gruyter.
Fikkert, P. & Freitas, M.J. 2006. Allophony and allomorphy cue phonological acquisition: evidence from the acquisition of the European Portuguese vowel system. Catalan Journal of Linguistics, volume 5 (Conxita Lleó & Anna Gavarró (Eds.) The Acquisition of Romance), 83-108.
Fox, B. & Routh, D. 1975. Analysing spoken language into words, syllables and phonemes: a developmental study. Journal of Psycholinguistic Research, 4 (4), 331-342.
Freitas, M. J. 1997. Aquisição da estrutura silábica do Português europeu. Dissertação de Doutoramento, Universidade de Lisboa.
Freitas, M. J., Alves, D. & Costa, T. 2007. O Conhecimento da Língua: Desenvolver a Consciência Fonológica. Lisboa: Ministério da Educação/Direcção-Geral da Inovação e Desenvolvimento Curricular. [87 pp.]
Freitas, M. J., Rodrigues, C., Costa, T. & Castelo, A. 2012. Os Sons que estão dentro das Palavras. Descrição e Implicações para o Ensino do Português como Língua Materna. Lisboa: Ed. Colibri/APP. [228 pp.]
Johnson, W. & Reimers, P. 2010. Patterns in Child Phonology. Edinburgh: Edinburgh University Press.
Kiparsky, P., & Menn, L. 1977. On the acquisition of phonology. In Language Learning and Thought. New York: Academic Press, 47–78.
Kolinsky, R. 1998. Spoken Word Recognition: A Stage-processing Approach to Language Differences. Euorpean Journal of Cognitive PsyChology, 10(1), 1-40.
Mateus, M. H. & Andrade, E. 2000. The Phonology of Portuguese. Oxford: Oxford University Press.
Morais, J., Alegria, J. & Content, A. 1987. The relationships between segmental analysis and alphabetic literacy: an interactive view. Cahiers de Psychologie Cognitive, 7, 415-438.
Rios, A. C. 2009. Competências fonológicas na transição do pré-escolar para o 1.º Ciclo do Ensino Básico. Dissertação de Mestrado, Universidade de Aveiro.
Rose, Y. 2000. Headedness and Prosodic Licensing in the L1 Acquisition of Phonology. Tese de Doutoramento, McGill University, Montréal.
Santos, A.R 2012. Consciência fonológica em crianças de idade pré-escolar. Tese de Mestrado em Ciências da Fala e da Audição. Aveiro: Universidade de Aveiro.
Schneider, W., Eschman, A. & Zuccolott, A. 2007. E-prime – Getting Started Guide. Pittsburgh: Psychology Software Tools, Inc.
Sim-Sim, I. 1997. Avaliação da Linguagem Oral: um Contributo para o conhecimento do Desenvolvimento Linguístico das Crianças Portuguesas. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian.
Snowling, M., Hulme, Ch., Smith, A. & Thomas, J. 1994. The effects of phonetic similarity and list length on children’s sound categorization performance. Journal of Experimental Child Psychology, 58, 160-180.
Treiman, R. & Zukowsky, A. 1991. Levels of Phonological Awareness. In S. A. Brady & D. P. Shankweiler (Eds.). Phonological processes in Literacy. A tribute to Isabelle Y. Liberman. Hillsdale/Hove/Londres: Lawrence Erlbaum Associates, 67-83.
Treiman, R., Bowey, J. & Bourassa, D. 2002. Segmentation of spoken words into syllables by English-speaking children as compared to adults. Journal of Experimental Child Psychology, 83, 213-238.
Vasco, J. 2008. Segmentação silábica em crianças em idade escolar e pré-escolar: dos quatro anos e seis meses aos sete anos e cinco meses de idade. Monografia apresentada ao Instituto Politécnico de Setúbal.
Veloso, J. 2003. Da influência do conhecimento ortográfico sobre o conhecimento fonológico. Estudo longitudinal de um grupo de crianças falantes nativas do Português Europeu. Dissertação de doutoramento, Universidade do Porto.
Vigário, M., Freitas, M. J. & Frota, S. 2006. Grammar and frequency effects in the acquisition of prosodic words in European Portuguese. Language and Speech, 49 (2), 175-203.
Downloads
Publicado
Edição
Secção
Licença
Direitos de Autor (c) 2017 Linguística Revista de Estudos Linguísticos da Universidade do Porto

Este trabalho encontra-se publicado com a Creative Commons Atribuição-NãoComercial 4.0.