Uma análise para a distinção entre evidencialidade e modalidade epistémica o caso dos adjetivos alegado e suposto e respetivas formas adverbiais
Resumo
A modalidade e a evidencialidade são domínios que nem sempre são fáceis de distinguir. Apesar de haver línguas que marcam formalmente ambas as categorias, tal não acontece em Português Europeu, havendo, por isso, várias formas e mecanismos que permitem marcar, tanto a evidencialidade, como a modalidade. Por isso, a presente investigação, tendo como objeto de estudo um conjunto de exemplos retirados do corpus CETEMpúblico, pretende avaliar de que forma os adjetivos suposto e alegado, bem como os advérbios supostamente e alegadamente, tradicionalmente considerados modais, contribuem para a distinção entre estes dois domínios e podem, dessa forma, transmitir valores evidenciais. Os exemplos mostram que o comportamento destes adjetivos e correspondentes formas adverbiais é distinto: supostoe supostamente transmitem valores de evidencialidade de suposição, enquanto alegado e alegadamente veiculam evidencialidade reportativa. Tal mostra que ambos demonstram um comportamento mais evidencial do que modal; dito por outras palavras, parece possível afirmar que, embora ambos os domínios estejam representados nestes adjetivos e advérbios, a modalidade vem em segundo plano: a transmissão de valores evidenciais é, por isso, mais forte do que a transmissão de valores modais de incerteza (epistémicos). No caso de alegado, em particular, a modalidade epistémica parece estar relacionada mais com a desresponsabilização do autor do que, propriamente, com a veiculação de um grau de incerteza.
Downloads
Referências
Aikhenvald, A. (2004). Evidentiality. Oxford University Press Inc.
Aikhenvald, A. (2015). Evidentials: Their links with other grammatical categories. Linguistic Typology, 19(02), 239-277.
Aikhenvald, A. (2020). Evidentiality and Information Source. In C. Lee, & J. Park (Eds.), Evidentials and Modals (Cap. 1, pp. 19-40). Brill.
Boas, Franz. (1938). Language. In: F. Boas (Ed.), General anthropology (pp. 124-145). Heath & Co.
Campos, M. H. C. (2003). Enunciação mediatizada e operações cognitivas. In A. S. S. Silva (Org.), Linguagem e Cognição. A Perspectiva da Linguística Cognitiva (pp. 325-340). APL, Universidade Católica Portuguesa/Faculdade de Filosofia de Braga.
Campos, M. H. C., & Costa, H. (2004). A modalidade apreciativa: uma questão teórica. In F. Oliveira, & I. Duarte (Orgs.), Da língua e do discurso (pp. 265-281). Campo das Letras.
Cantante, I. (2018). Sobre a Semântica de Adjetivos Adverbiais Modais [Dissertação de mestrado]. Universidade do Porto.
Cantante, I. (2020). Reflexões sobre a escalaridade dos adjetivos adverbiais modais. Linguística: Revista de Estudos Linguísticos da Universidade do Porto, 15, 41-70.
Cantante, I. (2021). Reflexões sobre a intensificação de adjetivos modais epistémicos por muito e bem em Português Europeu. Revista da Associação Portuguesa de Linguística, (8), 71-86.
Cunha, L. F. (2019). O Futuro Simples em Português Europeu: entre a temporalidade e a modalidade. Linguística: Revista de Estudos Linguísticos da Universidade do Porto, 14, 35-68.
Cunha, L. F. (2021). Propriedades Temporais do Futuro Simples em Português Europeu. Estudos de Lingüistica Galega, 13, 29-66.
De Haan, F. (1997, setembro 11-14/outubro 3-5). Evidentiality and epistemic modality: setting boundaries [Comunicação oral]. II Association for Linguistcs Typology Conference. Eugene, Oregon. / XXVI Linguistc Association of the Southwest Conference, Los Angeles, California.
De Haan, F. (1999). Evidentiality and epistemic modality: Setting boundaries. Southwest journal of linguistics, 18(1), 83-101.
De Haan, F. (2001). The relation between modality and evidentiality. Linguistische Berichte, 9, 201-216.
Demonte, V., & Fernández-Soriano, O. (2013). Evidentials diz que and que in Spanish. Grammaticalization, parameters and the (fine) structure of Comp. Linguística: Revista de estudos linguísticos da Universidade do Porto, 8, 211-234.
Dendale, M. P. (1994). Devoir épistémique, marqueur modal ou évidentiel? Langue Française, 102, 24-40.
Ferreira, I. A. (2011). Para o estudo semântico dos adjetivos adverbiais temporais e aspetuais do Português Europeu [Tese de Doutoramento]. Universidade do Porto.
Giannakidou, A., & Mari, A. (2013). The future of Greek and Italian: an epistemic analysis. Proceedings of Sinn und Bedeutung, 17, 255-270.
Giannakidou, A., & Mari, A. (2016). Epistemic future and epistemic MUST: nonveridicality, evidence and partial knowledge. In J. Blaszxzak, A. Giannakidou, D. Klimek-Jankowska, & K. Migdalski (Eds.), Mood, Aspect, Modality Revisited: New answers to old questions (pp. 75-117). University of Chicago Press.
Kratzer, A. (1981). The notional category of modality. In H. J. Eikmeyer, & H. Rieser (Eds.), Words, Worlds, and Context (pp. 38-74). Mouton de Gruyter.
Kratzer, A. (1991). Modality. In A. von Stechow, & D. Wunderlich (Orgs.), Semantics (pp. 639-650). de Gruyter.
Kratzer, A. (2012). The Notional Category of Modality. In A. Kratzer (Ed.), Modals and Conditionals (pp. 27-69). Oxford University Press.
Laca, B. (2014). Epistemic modality and temporal anchoring. Revista Virtual de Estudos da Linguagem-ReVEL, 8, 76-105.
Lazard, G. (2001). On the grammaticalization of evidentiality. Journal of pragmatics, 33(3), 359-367.
Lyons, J. (1977). Semantics. Cambridge University Press.
Mari, A. (2010). On the evidential nature of the Italian future. HAL-archives ouvertes. https://jeannicod.ccsd.cnrs.fr/ijn_00678549/document
Mari, A. (2016). French future: Exploring the future ratification hypothesis. Journal of French Language Studies, 26(3), 353-378.
Marques, R. (2012). Sobre alguns modalizadores de frase epistémicos e evidenciais. In Actas do XXVII Encontro Nacional da Associação Portuguesa de Linguística (pp. 398-415). Associação Portuguesa de Linguística.
Marques, R. (2019). On the meaning of some epistemic adverbs in Portuguese. Quinze études de cas sur les modalités linguistiques/ Fifteen Case Studies on Types of Linguistic Modalities, 6, 159-180.
Marques, R. (2020). Epistemic Future and epistemic modal verbs in Portuguese. Journal of Portuguese Linguistics, 19(1), 1–30.
Martins, A. (2010). Evidencialidade no discurso dos media. Estudos Linguísticos/ Linguistic Studies, 5, 235-245.
Mendes, A. (2016). Modalidade e foco: uma análise baseada em dados de corpus. Diadorim – Revista De Estudos Linguísticos e Literários, 18, 127-141.
Móia, T. (2016). Semântica e Pragmática. In A. M. Martins, & E. Carrilho (Eds.), Manual de Linguística Portuguesa (pp. 308-335). Mouton de Gruyter.
Oliveira, F. (1986). O Futuro em Português: alguns aspectos temporais e/ou modais. In Actas do 1º encontro da Associação Portuguesa de Linguística (pp. 353-374). Associação Portuguesa de Linguística.
Oliveira, F. (2003a). Modalidade e modo. In M. H. M. Mateus, A. M. Brito, I. Duarte, I. H. Faria, S. Frota, G. Matos, F.
Oliveira, M. Vigário, & A. Villalva (Eds.), Gramática da Língua Portuguesa (Cap. 9, pp. 243-275). Caminho.
Oliveira F. (2003b). Tempo e aspecto. In M. H. M. Mateus, A. M. Brito, I. Duarte, I. H. Faria, L. Segura, & A. Mendes (Eds.), Gramática da Língua Portuguesa (Cap. 6, pp. 127-178). Caminho.
Oliveira, F. (2013). Tempo Verbal. In E. B. P. Raposo, M. F. B. do Nascimento, M. A. C. da Mota, L. Segura, & A. Mendes(Eds.), Gramática do Português (Vol. 1, Cap. 15, pp. 509-553). Fundação Calouste Gulbenkian.
Oliveira, F., & Mendes, A. (2013). Modalidade. In E. B. P. Raposo, M. F. B. do Nascimento, M. A. C. da Mota, L. Segura, & A. Mendes (Eds.), Gramática do Português (Vol. 1, Cap. 18, pp. 623-668). Fundação Calouste Gulbenkian.
Oliveira, T. (2001). O futuro e o condicional como marcadores de mediativo. In C. N. Correia, & A. Gonçalves (Eds.), Actas do XVI Encontro Nacional da Associação Portuguesa de Linguística(Coimbra, 2000) (pp. 403-414). APL/Colibri.
Oliveira, T. (2015). Between evidentiality and epistemic modality: The case of the future and the conditional in European Portuguese. Belgian Journal of Linguistics, 29(1), 101-122.
Oliveira, T. (2021). O futuro e o condicional no texto jornalístico. In Gramática e Texto(pp. 165-178). NOVA FCSH – CLUNL.
Palmer, F. R. (1974). The English verb. Longman.
Palmer, F. R. (1979). Modality and the English Modals. Longman.
Palmer, F. R. (1986). Mood and Modality. Cambridge University Press.
Palmer, F. R. (2001). Mood and modality. Cambridge textbooks in linguistics (2ª ed.). Cambridge University Press.
Rebouças, R. (2019). Sobre o Verbo Ficar em Construções Progressivas [Dissertação de Mestrado]. Universidade do Porto.
Rebouças, R. (2020). Dever: marcador modal e/ou evidencial? ElingUP: Revista Eletrónica de Linguística dos Estudantes da Universidade do Porto, 8(2), 62-87.
Rebouças, R. (2021). Sobre a semântica do verbo ’ficar’ em construções progressivas com adjetivos e particípios. Revista da Associação Portuguesa de Linguística, (8), 218-236.
Squartini, M. (2001). The internal structure of evidentialy in Romance. Studies in Language, 25(2), 297-334.Saussure, L. (2012). Modalité épistémique, évidentialité et dépendance contextuelle. Langue Française, 173(1), 131-143.
Van der Auwera, J., & Plungian, V. A. (1998). Modality’s semantic map. Linguistic Typology, 2(1), 79-124.
Veloso, R., & Raposo, E. (2013). Adjetivo e Sintagma Adjetival. In E. B. P. Raposo, M. F. B. do Nascimento, M. A. C. da Mota, L. Segura, & A. Mendes(Eds.), Gramática do Português (Vol. 2, Cap. 31, pp. 1359-1493). Fundação Calouste Gulbenkian.
Vendrame-Ferrari, V. (2010). Os verbos ver, ouvir e sentir e a expressão da evidencialidade em língua portuguesa [Tese de Doutoramento]. Universidade Estadual Paulista.
Vendrame-Ferrari, V. (2012a). Verbos de Percepção em Construções Evidenciais de Acordo com o Modelo da Gramática Discursivo-Funcional. Revista LinguíStica, 8(1), 110-112.
Vendrame-Ferrari, V. (2012b). Orações complexas com verbos de percepção como forma de expressão da evidencialidade. Estudos Linguísticos, 41(1), 101-115.
Vetters, C. (2012). Modalité et évidentialité dans pouvoir et devoir: typologie et discussions. Langue Française, 173, 31-47.
Von Wright, G. H. (1951). An Essay in Modal Logic. North-Holland Publishing Company.
Von Fintel, K., & Gillies, A. S. (2007). An opinionated guide to epistemic modality. In T. Gendler, & J. Hawthorne (Eds.), Oxford Studies in Epistemology (Vol. 2, pp. 32-62). Oxford University Press.
Whitt, R. J. (2009). Auditory evidentiality in English and German: the case of perception verbs. Lingua, 119(7), 1083-1095.
Willett, T. (1988). A Coss-linguistic Survey of the Grammaticalization of Evidenciality. Studies in Language, 12(1), 51-97.
Downloads
Publicado
Edição
Secção
Licença
Direitos de Autor (c) 2022 Linguística: Revista de Estudos Linguísticos da Universidade do Porto

Este trabalho encontra-se publicado com a Creative Commons Atribuição-NãoComercial 4.0.