Tempos e temporalidades: Contribuições para a descrição do ‘comentário’ como género
Resumo
Os tempos gramaticais contribuem para a caracterização da temporalidade presente nos diferentes textos e discursos. Esta constatação constitui o ponto de partida para a reflexão presente neste artigo. Assim, e tendo como base textos que circulam com a etiqueta ‘comentário’, propomo-nos verificar de que forma as diferentes marcas linguísticas (presentes nas diferentes formas e construções que integram esses textos) contribuem para uma caracterização do que é (ou pode ser) o comentário. Partindo da análise de textos disponíveis no corpus G&T.Comenta procuramos relacionar géneros textuais e tipos de discurso(Bronckart 1997), caracterizar os valores dos tempos gramaticais e os localizadores temporais que contribuem para a construção da temporalidade nesses textos. Seguimos como princípio orientador as propostas desenvolvidas no âmbito do Interacionismo Sociodiscursivo (doravante ISD). Para dar conta, de forma sustentável, dos valores que decorrem dos diferentes tempos gramaticais presentes nesses textos, recorreremos, e.o, às propostas desenvolvidas na perspetiva da Teoria Formal Enunciativa (Culioli 1995, e.o.). É tendo como suporte esta proposta que assumiremos os diferentes valores que caracterizam os tempos gramaticais como resultantes da inter-relação entre categorias gramaticais diferentes, sendo, por isso possível, associar aos valores temporais que as formas e as construções em análise denotam, leituras de natureza aspetual e modal. As relações que se podem estabelecer nesta articulação entre uma análise micro (centrada nas formas e construções) e uma análise mais macro (que capta os textos como um todo complexo), previsivelmente permite contribuir para uma caracterização que julgamos interessante quer das propriedades de textos que se inscrevem no género comentário, quer dos valores que os tempos gramaticais evidenciam por se incluírem nesses textos.
Downloads
Referências
Anis, J., Chiss, J.-L., & Puech, C. (1988). L’écriture. Théories et descriptions. De Boeck Université.
Authier-Revuz, J. (1995). Ces mots qui ne vont pas de soi : BoucKes réflexives et non-coïncidences du dire (Vol. 2). Editions Larousse.
Authier-Revuz, J. (2003). Le fait autonymique : langage, langue, discours. Quelques repères. In J. Authier-Revuz, J., M. Doury, & S. Reboul-Touré (Orgs.), Parler des mots – Le fait autonymique en discours (pp. 67-96). Presses de la Sorbonne Nouvelle.
Bertinetto, P. M., & Lenci (2011). Habituality, pluractionality and imperfectivity. In R. Binnick (Ed.), The Oxford Handbook of Tense and Aspect (pp. 852-880). Oxford University Press.
Bronckart, J.-P. (1997). Activité langagière, textes et discours. Pour un interactionisme socio-discursif. Delachaux et Niestlé.
Bronckart, J.-P. (2008). Genres de textes, types de discours, et « degrés » de langue. Texto! Textes et Cultures, 13(1).
Campos, M. H. C. (1997). Pretérito perfeito simples, pretérito perfeito composto. In Tempo, aspecto e modalidade. Estudos de Linguística Portuguesa (pp. 9-51). Porto Editora.
Carlson, G. (2011). Habitual and Generic aspect. In R. Binnick (Ed.), The Oxford Handbook of Tense and Aspect (pp. 828-851). Oxford University Press.
Comrie, B. (1976). Aspect. Cambridge University Press
Coutinho, A. (2019). Texto e(m) Kinguística. Teorias, cruzamentos, apKicações. Edições Colibri.
Coutinho, M. A., & Jorge, N. (2012). Géneros de texto e construção discursiva do tempo. Verba Hispanica, 20(1), 145-164. https://doi.org/10.4312/vh.20.1.145-164
Culioli, A. (1995). Cognition and representation in linguistic theory. John Benjamins Publishing.
Culioli, A. (1990). Pour une linguistique de l’énonciation. Opérations et représentations. Tome 1. Ophrys
Eco, U. (2010). Os Limites da interpretação. Bertrand.
Ilari, R., Oliveira, F., & R. Basso (2016). Tense and aspect: a Survey. In W. L. Wetzels, S. Menuzzi, & J. Costa (Eds.), The Handbook of Portuguese Linguistics (pp. 392-407). Wiley Blackwell.
Givón, T. (2001). Syntax: An Introduction (rev. ed.). John Benjamins Publishing.
Jorge, N., & Ribeiros, I. (2013). Oficina. Do comentar ao comentário: atitudes discursivas e género textual [Comunicação]. 5º Encontro Internacional de Reflexão sobre a Escrita, Universidade de Aveiro, Portugal.
Lyons, J. (1977). Semantics. Cambridge University Press.
Oliveira, F. (1998). Algumas questões semânticas acerca da sequência de tempos em português. Revista da Faculdade de Letras: Línguas e Literaturas (1998), 421-432.
https://repositorio-aberto.up.pt/handle/10216/8074
Oliveira, F. (2003). Tempo e aspecto. In M. H. M. Mateus, A. M. Brito, I. Duarte, I. H. Faria, S. Frota, G. Matos, F. Oliveira, M. Vigário, & A. Villalva. Gramática da Língua Portuguesa (pp. 127-178). Caminho.
Oliveira, F. (2013). Tempo verbal. In E. B. P. Raposo, M. F. B. do Nascimento, M. A. C. da Mota, L. Seguro, & A. Mendes (Orgs.), Gramática do Português (Vol. 1, pp. 509-553). Fundação Calouste Gulbenkian.
Downloads
Publicado
Edição
Secção
Licença
Direitos de Autor (c) 2022 Linguística: Revista de Estudos Linguísticos da Universidade do Porto

Este trabalho encontra-se publicado com a Creative Commons Atribuição-NãoComercial 4.0.