Discursos de celebração e estratégias de apagamento enunciativo: uso e sistema
Resumo
A relação entre sistema e uso, ao serviço da construção da relação comunicativa e dos discursos que permite enquanto práticas comunicativas, é uma relação necessária, dos discursos para o sistema e do sistema para os discursos, num movimento pendular que sustenta a análise. Este é o lugar teórico a partir do qual nos propomos analisar o modo como determinadas estruturas gramaticais estão ao serviço de estratégias de apagamento enunciativo; “lugares gramaticais” onde as vozes do discurso são construídas, mas para se simular que não existem. É pela análise da estrutura Há quem X que pretendemos mostrar essa inter-relação entre discurso e sistema ancorada no conceito de dialogismo. O nosso objetivo é, especificamente, analisar o uso desta estrutura como estratégia discursiva de apagamento enunciativo, num discurso de celebração do Centenário da República Portuguesa, realizado no parlamento. Sobressai na análise que Há quem X é uma estrutura dialógica complexa, que serve uma estratégia objetivante de apagamento enunciativo da voz do locutor, mas também de outras vozes, um processo enunciativo com implicações na organização discursiva, nomeadamente nos planos argumentativo e ilocutório, no processo global de referenciação em curso.
Downloads
Referências
Authier-Revuz, J. (1982). Hétérogénéité montrée et hétérogénéité énonciative: éléments pour une approche de l’autre dans le discours. DRLAV. Documentation et Recherche en Linguistique Allemande Vincennes,26(1), 91-151.
Bakhtine, M. (1984). Esthétique de la Création Verbale. Gallimard.
Benveniste, E. (1970). L’appareil formel de l’énonciation. Langages, (17), 12-18.
Berrendonner, A. (2010). Autour d’une définition linguistique des notions de voix collective et de on-locuteur. In M. Colas-Blaise, M. Kara, L. Perrin & A. Petitjean (eds), La question polyphonique ou dialogique en sciences du langage (pp. 39-64). Université Paul Verlaine-Metz.
Brès, J. (2001). Analyse du Discours et Dialogisme. Diacrítica, 16, 249-263.
Brès, J. (2009). Dialogisme et temps verbaux de l’indicatif. Langue Française, (3), 21-39.
Brès, J., & Mellet, S. (2009). Une approche dialogique des faits grammaticaux. Langue Française, (3), 3-20.
Charaudeau, P. (1992). Grammaire du sens et de l’expression. Hachette.
Charaudeau, P. (2004). Visadas discursivas, gêneros situacionais e construção textual. In I. L. Machado, & R. Mello (Eds.), Gêneros - reflexões em análise do discurso (pp. 13-41). Núcleo de Análise do Discurso / Faculdade de Letras - Universidade Federal de Minas Gerais.
Charaudeau, P. (2014). Da linguística da língua à linguística do discurso, e retorno. Revista Desenredo,10(2), 227-236. http://seer.upf.br/index.php/rd/article/view/4155
Duarte, I. M. (2018). Marquers présentatifs dans des intéractions informelles en Portugais Européen. Studia Universitatis Babes-Bolyai Philologia, 63(2), 269-284.
Ducrot, O. (1984). Le dire et le dit. Éditions de Minuit.
Fiorin, J. L. (2017). Uma teoria da enunciação: Benveniste e Greimas. Gragoatá, 22(44), 970-985. file:///C:/Users/Utilizador/Downloads/33544-Texto%20do%20Artigo-111795-1-10-20180228.pdf
Fonseca, J. (1992). Linguística e Texto/Discurso - Teoria, Descrição, Aplicação. Instituto de Cultura e Língua Portuguesa.
Kerbrat-Orecchioni, C. (1980). L’énonciation. De la subjectivité dans le langage. Armand Colin.
Kuhn, T. (1983). La structure des revolutions scientifiques. Flammarion.
Lopes, A. C. M. (2009). Justification: a coherence relation. Pragmatics, 19(2), 223-239. http://hdl.handle.net/10316/47870
Marques, M. A. (2000). Funcionamento do Discurso Político Parlamentar – a organização enunciativa no Debate da Interpelação ao Governo. Universidade do Minho. Instituto de Letras e Ciências Humanas (ILCH).
Marques, M. A. (2013). Construir a responsabilidade enunciativa no discurso jornalístico. REDIS: Revista de Estudos do Discurso, 2, 139-165. http://ler.letras.up.pt/uploads/ficheiros/12760.pdf
Marcuschi, L. A. (2008). Produção textual, análise de gêneros e compreensão. Parábola.
Mellet, S. (2009). Dialogisme, parcours et altérité notionnelle : pour une intégration en langue du dialogisme?. Langue française, (3), 157-173.
Philippe, G. (2002). L’appareil formel de l’effacement énonciatif et la pragmatique des textes sans locuteur. In R. Amossy (Ed.), Pragmatique et analyse des textes (pp. 17-34). Presses de l’université de Tel-Aviv.
Rabatel, A. (2001). Valeurs énonciative et représentative des ’présentatifs’ C’EST, IL Y A, VOICI/VOILA: effet point de vue et argumentativité indirecte du récit. Revue de sémantique et pragmatique, (9-10), 43-74.
Rabatel, A. (2003). Le point de vue, entre langue et discours, description et interprétation : état de l’art et perspectives. Cahiers de praxématique, (41), 7–24.
Rabatel, A. (2004). Stratégies d’effacement énonciatif et posture de surénonciation dans le Dictionnaire philosophique de Comte-Sponville. Langages, (4), 18-33.
Rabatel, A. (2005). La part de l’énonciateur dans la construction interactionnelle des points de vue. Marges Linguistiques, (9), 115-136.
Rabatel, A. (2009). A brief introduction to an enunciative approach to point of view. In P. Hühn, W. Schmid, & J. Schönert (Eds.), Point of view, perspective and focalization (pp. 79-98). De Gruyter.
Rabatel, A. (2017). Pour une lecture linguistique et critique des médias. Empathie, éthique, point(s) de vue. Lambert-Lucas.
Rabatel, A. (2019). Énonciateurs Premiers, Seconds, Points de Vue, Modalité et Intentionnalité aux Défis de l’Interprétation. Recherches en Langue et Littérature Françaises, 13(23), 165-188. http://france.tabrizu.ac.ir/
Vion, R. (2001). Effacement énonciatif et stratégies discursives. In A. Joly, & M. de Mattia (Eds.), De la syntaxe à la narratologie énonciative. Textes recueillis en hommage à René Rivara (pp. 331-354). Ophrys.
Wittgenstein, L. (2000). Investigações filosóficas (J. C. Bruni, Trad.). Ed. Nova Cultural (Original publicado em 1953).
Downloads
Publicado
Edição
Secção
Licença
Direitos de Autor (c) 2022 Linguística: Revista de Estudos Linguísticos da Universidade do Porto

Este trabalho encontra-se publicado com a Creative Commons Atribuição-NãoComercial 4.0.