A evolução de estudos neurocientíficos & linguísticos sobre habilidades linguísticas. The evolution of neuroscientific & linguistic studies about linguistic abilities
Resumo
O presente artigo enfoca a evolução de estudos neurocientíficos e linguísticos sobre as habilidades linguísticas: falar, (ouvir), ler e escrever, ao mesmo tempo destacando que investigações neurocientíficas localizacionistas mapearam, ainda no séc. XIX, duas áreas cerebrais da linguagem - Broca e Wernicke – com base em pesquisas sobre perturbações da fala (afasias). Quanto à linguística, pelo menos oficialmente teve início no séc. XX, com Saussure, que priorizou a fala (langue). A seguinte habilidade pesquisada pelas neurociências, já no séc. XX, foi a de leitura e suas dificuldades (dislexia) através da teoria das rotas de leitura (Coltheart 1978; Coltheart, Patterson, Marshall, 1980). Já no séc. XXI, Dehaene (2007) mapeou a base cerebral da atividade leitora, através de imageamento cerebral. Há que referir, também, que o atual interesse pelo estudo da leitura por parte de professores das diferentes disciplinas acadêmicas, linguistas, psicolinguistas e pesquisadores das mais distintas áreas, se deve as grandes dificuldades de leitura e compreensão manifestadas pelos estudantes dos três graus de ensino, no país (Brasil). No que diz respeito à escrita, mesmo hoje há poucos estudos em neurociências e menos ainda em linguística. Por fim, acrescenta-se ser indispensável muita cautela com relação à atribuição do diagnóstico de dislexia de desenvolvimento (DD) a crianças com dificuldade de aprendizagem de leitura, por não haver ainda uma resposta científica definitiva a respeito da causa desse transtorno.
Downloads
Referências
Aaron, P. G., & JOSHI, R. M. (1989). (Edit.) Reading and Writing Disorders in Different Orthografic Systems. Netherlands: Kluwer Academic Publishers.
Amorim, W.W. et al. (2016). Neurofisiologia da escrita: O que acontece no cérebro humano quando escrevemos? Revista Neuropsicologia Latinoamericana. Vol 8 Nº 1, p. 01-11.
Auroux, S. (1994) A hiperlíngua e a externalidade da referência. Tradução de Luiz Francisco Dias. In: Gestos de leitura: da história no discurso. Orlandi, E. P. (Org.). Campinas: Edunicamp, p. 241-249.
Bellugi, U., & Fischer, S. (1972). A comparison of sign Language and spoken Language. Cognition, v. 1, p. 173-200.
Bolinger, D. (1977). Meaning and Form (English language series II) London: Longman, p. xii- +212.
Bradley, L., & Bryant, P. E. (1978). Difficulties in auditory organization as a possible cause of reading backwardness. Nature, 271: 746–747.
Bradley l., & Bryant, P.E. (1983). Categorizing sounds and learning to read - a causal connection. Nature, 301: 419-421.
Cagliari, L. (2002). Alfabetização e Ortografia. Educar. Curitiba: Editora da UFPR, n. 20 p. 43-58.
Cagliari, L. (1989). Alfabetização & Linguística. São Paulo: Scipione.
Cagliari, L. (1990). Ditados e ditadores – entendidos e entendentes: algumas considerações sobre ditados, cópia e interpretação de texto na escola de primeiro grau. In: Desenvolvendo a língua falada e escrita. M. Tasca (Org.). Porto Alegre: Sagra.
Capovilla, A. G. S., & Capovilla, F. C. (2004). Problemas de Leitura e Escrita: Como identificar, prevenir e remediar numa abordagem fônica. 4. ed. São Paulo, SP: Memnon, Capes, CNPq, Fapesp.
Caplan, D., Lecours, A.R., & Smith, A. (1984). Biological Perspectives on Language. Cambridge, Mass.: MIT Press.
Caplan, D. (1987). Neurolinguistics and linguistic aphasiology – An introduction. Cambridge, Mass.: Cambridge University Press.
Castles, A.; Coltheart, M. (1993). Varieties of developmental dyslexia. Cognition, Amsterdam, v. 47, p. 149-180.
Chomsky, N., & Halle, M. (1968). The sound pattern of English. New York: Harper and Row.
Coltheart, M. (1978). Lexical access in simple reading tasks. In: Strategies of Information Processing. G. Underwood (Ed.). San Diego, CA: Academic Press, p. 151-216.
Coltheart, M., Patterson, K., Marshall, J. C. (Ed.) (1980). Deep Dyslexia. London: Routledge & Kegan Paul.
Costa, J. da; Pereira, V. W. (Orgs.). (2009). Linguagem e Cognição: relações interdisciplinares. Porto Alegre: EDIPUCRS.
Damásio, A.R. (2012). O erro de Descartes: emoção, razão e o cérebro humano. Trad. Dora Vicente; Georgina Segurado. 3ª ed. São Paulo: Companhia das Letras.
Dehaene, S. (2007). Les Neurones de la Lecture. Paris: Odile Jacob.
Dehaene, S. (2012). Os Neurônios da Leitura: como a Ciência Explica a Nossa Capacidade de Ler. Porto Alegre: Artmed.
Dijk, T. A. Van. (2012). Discurso e contexto: uma abordagem sociocognitiva. São Paulo: Contexto.
Ellis A. W. (1995). Leitura, escrita e dislexia: Uma análise cognitiva. Porto Alegre: Artes Médicas.
Fijalkow, J. (2014). A leitura, entre as ciências naturais e as ciências sociais. Leitura: Teoria & Prática, Campinas. 32 (62):13-40.
Facoetti, A., & Trussardi, A., & Ruffino, M., & Lorusso, M. L. & Cattaneo, C., & Galli, R.; Molteni, M., & Zorzi, M. (2010). Multisensory Spatial Attention Deficits are Predictive of Phonological Decoding Skills in Developmental Dyslexia. Journal of Cognitive Neuroscience. vol. 22, n. 5, p. 1011-1025.
Facoetti, A, & Lorusso, M.L., & Paganoni, P., Cattaneo, C., & Galli, R. & Umilta, C. et al. (2003) Auditory and visual automatic attention deficits in developmental dyslexia. Brain Res Cogn Brain Res. 16 (2):185-91.
Flôres, O.C. (2016). Como funciona o nosso cérebro? Por que professores de língua e alfabetizadores precisam conhecer esse funcionamento? In: Linguagem e Cognição- emergência e produção de sentidos. Rosângela Gabriel e Ana C. Pelosi (Orgs.) Florianópolis: Insular.
Fodor, J. A. (1983). The Modularity of Mind. Cambridge Mass: MIT Press.
Geschwind, N., & Galaburda, A. M. (Ed.) (1984). Cerebral dominance -The biological Foundations. Cambridge (Mass.): Harvard University Press.
Grabe, W. (2009). Reading in a second Language: moving from Theory to Practice. Cambridge: Cambridge University Press.
Hinkel, E. (2010). Integrating the four skills: current and historical perspectives. In: The Oxford Handbook of Applied Linguistics. United States of America: Oxford University Press.
Kandel, E. R., & Schwartz, J., & Jessel, T. M. et al. (2014). Princípios de Neurociências. 5 ed. Porto Alegre: Artmed.
Karnopp, L. B. (1999). Aquisição Fonológica na Língua Brasileira de Sinais: Estudo Longitudinal de uma Criança Surda. Tese (Doutorado) Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. POA.
Lacerda, C.B.F., & Mantelatto, S.A.C. (2000). As Diferentes Concepções de Linguagem na Prática Fonoaudiológica Junto a Sujeitos Surdos. In: Lacerda, C.B.F., & Nakamura, H., & Lima, M.C. (Org.). Fonoaudiologia: Surdez e Abordagem Bilíngue. São Paulo: Plexus, p. 21-41.
Lent, R. (2010). Cem Bilhões de Neurônios? Conceitos Fundamentais da Neurociência. Rio de Janeiro: Atheneu.
López-Escribano, C. (2007). Contribuciones de la neurociencia al diagnóstico y tratamiento educativo de la dislexia del desarrollo. Revista de Neurologia, 44 (3): 173-180.
Luria, A. R. et al. (1991). Psicologia e pedagogia. Bases psicológicas da aprendizagem e do conhecimento. v 1. 2 ed. Lisboa: Estampa.
Massi, G. A. (2007). A dislexia em questão. São Paulo: Lexus.
Massi, G., & Santana, A. P. O. (2011). A desconstrução do conceito de dislexia: conflito entre verdades. Paidéia, vol. 21, n. 50, p. 403-411, set.- dez.
McGuinness, D. (2006). O ensino da leitura: o que a ciência nos diz sobre como ensinar a ler. Porto Alegre: Artmed.
Morato, E. (2000). Vigostski e a perspectiva enunciativa da relação entre linguagem, cognição e mundo social. Educação e Sociedade, ano XXI, n. 27, julho.
Morato, E. M., & Koch, I. G. V. (2003). Linguagem e cognição: os (des)encontros entre a linguística e as ciências cognitivas. Cadernos de Estudos Linguísticos (UNICAMP), Campinas (SP), v. 44, p. 85-91.
Neves, M. H. de M. (2000). Gramática de usos do português. São Paulo: Edit. UNESP. Pezzati, E. G. (2004). O Funcionalismo em Linguística. In: Fernanda Mussalim e Anna C. Bentes. (Orgs) Introdução à Linguística: fundamentos epistemológicos. Vol 3. São Paulo: Editora Cortez, p.165-218.
Piaget, J. (1974). La prise de conscience. Paris: PUF.
Piaget, J. (1985). The equilibration of cognitive structures. Chicago: University of Chicago Press, 1985.
Pinker, S. (2004). Tábula rasa: a negação contemporânea da natureza humana. São Paulo: Companhia das Letras.
Pinto, M. da G. (1998) Saber viver a Linguagem. Um desafio aos Problemas de Literacia. Porto: Porto Editora.
Plaut, D. C, et al. (1996). Understanding normal and impaired word reading: Computational principles in quasi-regular domains. Psychological Review, 103, 56-115.
Ramus, F., & Marshall C., & Rosen, S, & Van Der Lely, H. (2013). Phonological deficits in specific language impairment and developmental dyslexia: towards a multidimensional model. Brain. A Journal of Neurology. 136, 630-645.
Ramus, F. (2014). Book Review: Should there really be a ‘Dyslexia debate’? Brain. A Journal of Neurology. 137; 3371–3374.
Saussure, F. (1971) Cours de linguistique générale (1916) Texte établi par Charles Bally, Albert Sechehaye et Albert Riedlinger, Payot.
Saussure, F. (1971). Curso de linguística geral. São Paulo: Cultrix.
Scliar-Cabral, L. (2003) Princípios do sistema alfabético do português do Brasil. São Paulo: Contexto.
Seidenberg, M. S., & McClelland, J. L. (1989). A distributed, developmental model of word recognition and naming. Psychological Review, 96, 523-568.
Silveira, V. L. (2008). Letras, Linguagem e Neurociência: um panorama evolutivo da Neurolinguística. Estação Científica Online. Juiz de Fora, n. 06, Ago./Set. 2008.
Snowling, M. J. (2000). Dyslexia. 2 ed. Oxford, UK: Blackwell.
Tomasello, M. (1999). Origens culturais da aquisição do conhecimento humano. São Paulo: Martins Fontes.
Trubetzkoy, N. (1939). Grundzüge der Phonologie. Göttingen: Vandenhoek; Ruprecht, 1939.
Van Der Lely, H. (2005). Domain-specific cognitive systems: Insight from Grammatical specific language impairment. Trends in Cognitive Sciences, 9, 2, 53-59.
Veloso, J. (2005). A língua na escrita e a escrita da língua. Algumas considerações gerais sobre transparência e opacidade fonémicas na escrita do português e outras questões In: Da Investigação às Práticas. Estudos de Natureza Educacional. [Escola Superior de Educação de Lisboa, Centro Interdisciplinar de Estudos Educacionais]. Vol. VI, nº 1, p. 49-69.
Vygotsky, L. S. (1989). A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes.
Downloads
Publicado
Edição
Secção
Licença
Direitos de Autor (c) 2020 Linguística: Revista de Estudos Linguísticos da Universidade do Porto

Este trabalho encontra-se publicado com a Creative Commons Atribuição-NãoComercial 4.0.