“Nada mais vos posso dar, a não ser meu sangue”: uma análise sobre a construção do ethos
DOI:
https://doi.org/10.21747/21833958/red10a3Palavras-chave:
Gênero textual, Carta de suicídio, Getúlio Vargas, EthosResumo
Em 1954, o Brasil, então governado pelo presidente Getúlio Vargas, passava por uma grande crise política. A cúpula militar e os opositores políticos exigiam a renúncia do presidente. Entretanto, antes de ser deposto, Getúlio Vargas tirou sua própria vida com um tiro no peito. Para o povo brasileiro, deixou uma carta datilografada que foi encontrada junto ao seu corpo. A “carta[1]testamento”, como ficou conhecida, deixava clara a razão do suicídio e transformou Getúlio Vargas em mártir e herói do povo brasileiro. Entretanto, anos depois da fatídica morte, foi tornada pública uma segunda carta, manuscrita e muito mais concisa do que a primeira. Embora muitos acred- item que esta seja a verdadeira “carta-testamento”, não foram encontrados estudos acerca dessa segunda carta no âmbito da Linguística. Assim, com o objetivo de preencher tal lacuna, este estudo busca analisar as duas cartas e apresentar as diferentes estratégias linguístico-discursivas utilizadas pelo autor na construção do ethos. Como pressupostos teóricos, utilizaremos o quadro de análise de gêneros textuais proposto por Adam (2001) e alguns conceitos de ethos propostos por Amossy (2019) e Maingueneau (2007; 2019). Nossa análise comprova o quão importante foi o papel da “carta-testamento” na construção da imagem de Getúlio Vargas. No entanto, também mostra que há algumas diferenças significativas nas estratégias linguístico-discursivas presentes nas duas cartas. Por fim, embora a imagem de mártir esteja presente nas duas missivas, observamos que, na carta manuscrita, o autor constrói a imagem de alguém que deseja apenas ficar esquecido no próprio país e, na carta-testamento, a imagem de herói que não quer ser esquecido pelo povo brasileiro.
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