Resumo
A partir de uma reflexão sobre a resposta do poeta Armando Silva Carvalho (n. 1938) à questão “A poesia é uma forma de resistência?” e sobre o seu dictum “O texto não faz nem refaz o mundo”, este trabalho procura reconstituir na sua obra poética, desde o inaugural Lírica Consumível (1965), os princípios elementares que presidem ao exercício da “expressão desassossegada”, da retórica da ironia e da textualidade paródica que têm singularizado o discurso do poeta no panorama da literatura portuguesa contemporânea, exigindo ao leitor a colaboração num complexo jogo de reconstrução da intencionalidade autoral. Esta análise terá em vista um equacionamento sistemático das modulações que a razão cínica, fundada no culto da polifonia irónica, tem apresentado numa certa linhagem da poesia moderna e contemporânea que ambiciona, na síntese de Armando Silva Carvalho, “incomodar os vivos” e assim, nesta justa medida, assumir a resistência enunciativa como forma de existência poética.