Em 1938, no seu livro De la poesía a la revolución, o escritor chileno Manuel Rojas (1896-1973) afirmava que o escritor deve fugir da erudição “como el creyente escapa del diablo”. Décadas depois, em 1969, o poeta também chileno Nicanor Parra (1914), no seu poema “Manifiesto” (Obra gruesa), anunciará que “los poetas bajaron del Olimpo”. Ambos significativos excertos suportam perfeitamente a ideia sobre literatura e poesia que os dois criadores sul-americanos corporizam na sua escrita. E sostenho “na sua escrita”, porque interessa-me demonstrar esta posição ideológica na materialidade concreta do vocabulário e sintaxe escolhidos conscientemente por eles. A partir de Obra gruesa de Parra e os romances Hijo de ladrón (1951) e Sombras contra el muro (1964), proponho uma revisão panorâmica da dinâmica verbal focada na preponderância do local e quotidiano do sujeito chileno nessas obras, verificando a atenção posta -ao mesmo tempo- a problemas transcendentais desde essa posição perante a linguagem.