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Artigos

N.º 20 (2009): Artes da Perversão

O “especialista em sublimação” e os usos da linguagem (acerca da poesia de António Franco Alexandre)

  • Rosa Maria Martelo
Enviado
March 1, 2016
Publicado
2009-06-01

Resumo

O leitor de António Franco Alexandre é frequentemente colocado perante situações de indecidibilidade. Encontra fios narrativos que perde logo a seguir, ou que vê trocados por outros fios, hesita perante as construções identitárias que lhe são propostas, reconhece vozes que vê trocadas noutras vozes, mundos que se dissipam noutros mundos. Identifica fragmentos de discurso que migraram de diferentes autores, mas suspeita que eles foram alterados ou integrados em contextos que os alteram drasticamente, e assim por diante. E quando se confronta com um discurso que explícita e recorrentemente
desvaloriza a poesia, o leitor verifica ainda que essa desvalorização é veiculada em poemas nos quais a ostentação de sinais de poeticidade não é menos nítida do que aquela que pode encontrar, por exemplo, em António Ramos Rosa ou Herberto Helder, talvez aqueles poetas que, sendo de uma geração diferente, mais se atêm, no período em que escreve Franco Alexandre, a uma afirmação forte da dimensão heurística da palavra poética. E no entanto, se António Franco Alexandre escreve como se usasse as mesmas armas, parece obter resultados muito diferentes. Dir-se-ia que a sua escrita consegue fazer desaparecer até essas armas, quando as usa. Mas será mesmo assim?