
Neste texto analiso algumas mudanças ocorridas em três variantes não europeias do Português, o Português Angolano (PA), o Português Moçambicano (PM) e o Português Brasileiro (PB), relacionadas com a expressão do Objecto Indirecto, e comparo-as com o Português Europeu (PE). A partir de vários dados, verificamos que estas variantes estão a perder o caso dativo, mas em direcções diferentes. Embora se use o pronome lhe e a preposição a por vezes de modo aparentemente abusivo, o PM e o PA estão a perder o dativo e empregam duas estratégias distintas: enquanto o PM usa a Construção
de Duplo Objecto, no PA o objecto indirecto é muitas vezes introduzido pela preposição em. O Português Brasileiro (PB) exibe variação na expressão do Objecto Indirecto, mas a maneira mais representativa de expressar o beneficiário é através do uso da preposição para, embora falantes com escolarização continuem a usar a preposição a, sobretudo como expressão de origem. Mostro que a escolha das preposições tem uma explicação: em e para, no PA e no PB, respectivamente, são as mesmas preposições que estão a introduzir o complemento de verbos de movimento, o que indica
que as três preposições, a, no Português Europeu, para e em (esta última normalmente considerada preposição locativa) exprimem o limite concreto ou abstracto de uma trajectória, sempre que combinados com verbos que tenham alguma componente de direccionalidade.