
Os dois anões de A Boca na Cinza, livro de Rui Nunes, e os dois trolls de Na Fronteira, filme de Ali Abbasi, têm em comum a experiência do limiar entre o humano e o não-humano: são corpos em excesso, amarrados ao peso da sua fisicalidade, motivo da sua exclusão social. Por sua vez, tanto o livro como o filme trabalham as respetivas linguagens num estilo que exacerba as suas potencialidades materiais, como se escrita e imagem fossem dotadas de um corpo. Da colisão entre estes dois corpos faz-se uma reflexão sobre o estranhamento do humano face a si mesmo.