
Nos anos 70, o trabalho de reescrita e de adaptação de textos não teatrais é muitas vezes obra do encenador e por isso mesmo integrado num projecto mais amplo – o da “escrita cénica”. Nas duas últimas décadas do século XX, assistimos a um reinvestimento dos próprios autores de teatro em práticas experimentais que visam reescrever e/ou adaptar materiais tão diversos quanto o romance, o diário, o texto filosófico, ou mesmo o texto científico. A partir da análise das adaptações teatrais dos romances de Sade, de Sacher-Masoch e de Crébillon Fils, este trabalho propõe uma reflexão sobre o gesto de reescrita e/ou de adaptação enquanto espaço privilegiado de numerosos transbordamentos e contaminações – do texto pela cena e da cena pelo texto – e sobre a sua contribuição decisiva para o carácter híbrido da escrita dramática contemporânea.