
Este ensaio pretende analisar de que maneira o corpo está representado para significar a História e as histórias através das personagens do romance Transatlantic (2013), escrito pelo aclamado autor irlandês Colum McCann. Por um lado, levando em consideração a “economia política do corpo” postulada por Michel Foucault, o corpo pode ser entendido como um espaço de inscrição social, política e histórica. Por outro lado, trazendo o trabalho de Didier Anzier sobre o eu-pele para uma abordagem literária, a presença corpórea humana pode também ser entendida como uma mediadora entre a História e a experiência histórica subjetiva. Em Transatlantic, mais precisamente no capítulo intitulado “1845-46 – Freeman”, McCann escreve sobre a travessia do Atlântico feita pelo orador e escritor Frederick Douglass a uma Irlanda devastada pela fome. Considerado um escravo em fuga e com esperanças de conseguir sua liberdade nessa viagem, Douglass admirou a brancura da pele irlandesa tanto quanto foi hostilizado por ser negro. Questões pessoais, sociais, históricas são ressignificadas pelo protagonista nesse encontro, o que é precisamente o foco da discussão no presente trabalho.