A dispersão das catástrofes. O ilimitado e a estrução do mundo
Resumo
Neste texto, propomo-nos examinar os modos como o pensamento nancyano da catástrofe, devedor da indagação heideggeriana da ontologia e da sua história, se lança numa leitura do mundo contemporâneo marcada pela passagem do «com» (Mitdasein) do plano existencial ao plano simplesmente categorial. Assim, a constituição ontológica do existente resvala para a pura justaposição, tal como esta aparece na sua análise da «proliferação dos fins» e da sua incessante transformação em meios. Dedicamos ainda a nossa atenção à ruína, saturação e ruptura do modelo da «construção». É na infinitização de toda e qualquer acção, pela imprevisível arquitectura técnica que a desenha, que o catastrófico penetra o mundo com a sua multiplicidade constitutiva e o estado de «suspensão» que o define. A vida dos resíduos na sua dispersão é exemplar neste contexto: a catástrofe desdobra-se assim em caducidades lançadas no ambiente e no psiquismo dos sujeitos, algo que pode ser visto como a introjecção da temporalidade da estrução. A anomia que hoje acolhe as catástrofes que se entrelaçam diante dos nossos olhos, aparentemente «escandalosa» num paradigma da acção, decorre num «presente que nunca se cumpre como presença» (Nancy) e que se encontra na impossibilidade de exprimir o sentido do mundo. A desordem da estrução, que caracteriza o que alguns chamam com impropriedade o Antropoceno, não acontece como reversão ou destruição de uma ordem, mas antes como des-ligamento do carácter imperativo da ordem. A partir desta questão, abre-se uma discussão sobre o sentido da/na comunidade que se abeira da catástrofe.
Palavras-chave: Ontologia, Catástrofe, Estrução, Mundo, Nancy.
DOI: https://doi.org/10.21747/21836892/fil39a1
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