Resumo
Neste artigo, pretende-se discutir o poema “são paulo”, de Haroldo de Campos, publicado no livro póstumo Entremilênios, de 2009. Nele, por meio de um profundo lirismo que tenta cantar a cidade natal do próprio Campos, tematizada também em poemas mais antigos, notam-se a exacerbação das cenas citadinas e a aceleração violenta da vida contemporânea, que causam um transbordamento do próprio discurso, ao revelar a tentativa do sujeito lírico de elaborar a perda de uma cidade ideal, impossível de existir face à aceleração da vida cotidiana. No lugar da idealização, há, pela mobilização de recursos estéticos, típicos da poesia, e pela incursão de um posicionamento crítico do eu poético diante do que vê, ouve e percebe, a conversão de ”são paulo” em paisagem marcada pela fratura, pelo esfacelamento, pela adversidade. As contribuições de Michell Collot, Hartmut Rosa e Paul Virilio são aqui convocadas para a leitura do poema ora proposta.