Resumo
O movimento literário Spatialisme, criado na França no início da década de sessenta, participa de uma retomada experimental no âmbito da poesia e da visualidade. No bojo dessa vanguarda, a escritora Ilse Garnier, na obra Blason du Corps Féminin (1979), apresenta poemas que radicalizam as potencialidades gráficas da palavra “corpo” e revelam como sua escrita, por operações de desmembramento, multiplicação e deslocamento da vogal “o”, diz do caráter performático de toda poesia visual. Na leitura aqui empreendida, sobretudo à luz de pressupostos teóricos do pós-estruturalismo francês, os corpos femininos, ao longo do corpus poemático de Ilse, são construídos como espacialidades em movência, desdobrando-se em diferentes maneiras de fazer(-se) texto. Nesse processo, guardam clara relação com a manipulação algébrica, em que variáveis – representadas por letras em equações matemáticas – são movidas no poema como se para produzir novos cálculos estéticos.