
Em “Danças húngaras de Brahms”, segundo dos três contos reunidos na colectânea As Enganadas (2003) de Teresa Veiga, cuja trama assenta basicamente nas relações entre uma mãe viúva e o seu filho de dezanove anos, defrontamo-nos, por um lado, com um discurso que celebra os pilares do patriarcado e reduz os indivíduos a “corpos dóceis” (Foucault 1975) moldados por práticas regulatórias e discursos padronizados e, por outro, com a representação de corporalidades e performatividades que visam questionar as dicotomias de género e as categorizações rígidas de identidade, género e sexualidade. Nele se revelam identidades que remetem para a subversão, a diferença, a marginalidade, que procuram desfazer condutas e discursos normativos e desafiar determinismos que condicionam as relações entre os indivíduos. Pretende-se assim demonstrar que o conto se constrói em torno de representações opressoras de sexo, género e identidade e da tentativa de derrubar dispositivos instituídos para servir o patriarcado diferencialista e hierarquizado, abrindo espaços para a transgressão e a resistência aos vários sistemas de poder, numa perspectiva amplamente libertadora.