
Propomo-nos expor e defender um ponto de vista que parte da ideia de que viajar se manifesta como retorno ao próprio e mostração das suas funcionalidades de alimento fundador e restaurador. Esta perspectiva cultiva os princípios da obliquidade e do descentramento, qualidades essas que sustentam o acto de viajar como abertura e expansão na sua forma necessária ao movimento contrário. Enquanto eixos de orientação estes princípios exprimem o desvio de padrões referenciais, segundo os quais partir e chegar são apenas ínfimas etapas de um movimento contínuo a que apenas a morte porá fim. E mesmo após o desaparecimento do ser como matéria não se perde a matriz porque outros também a seguiram, estão a seguir ou a seguirão. Criar discurso e imagem sobre itinerário viajante que propiciem a fixação de um resto, de um fragmento, de uma ressonância mais ou menos a gosto de quem os escolhe, e apenas isso, jamais se sobreporá à experiência e vivência daquilo que sendo novo em nós nos actualiza como um embrião. A reflexão, inspirada em muitos longos cursos, contará com a apresentação de uma série de imagens fotográficas que constituíram apropriação na Índia. A um ou outro desses registos será feito um breve comentário como desocultação daquilo que é o nosso contributo para que o instante de um processo viajante, não sendo substituível por outra coisa, possa ficar outra vez de pé, possa ser tornado presente.