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Artigos

N.º 28 (2013): Modernismos Revisitados | 1912-2012

O Reino de Gonçalo M. Tavares: O Discurso do Poder e das Dismorfias

  • Maria da Graça Ribeiro
Enviado
March 10, 2015
Publicado
2013-06-28

Resumo

A dicotomia forte/fraco funciona como o eixo gravitacional do elenco das personagens que pertencem ao Reino. Lenz Buchmann e Theodor Busbeck, personagens fortes e, em simultâneo, prisioneiras da respetiva supremacia intelectual, são tanto mais perversas quanto o leitor as identificar em contextos sociopolíticos não ficcionais. Na origem do seu poder, enunciaremos procedimentos técnicos, teorizados por Foucault, que controlam o corpo, os gestos e o discurso, estabelecendo correspondências perversas entre observador-observado e caçador-presa, respetivamente. As personagens fortes agem na negação do reconhecimento de uma força maior à do homem. Paradoxalmente, não são suficientemente fortes para resolver a sua inquietude e terminam mutiladas num processo de fragmentação física e moral subjacente, afinal, à condição do homem moderno. No Reino, esse estado de incompletude é verificável na ausência, na aceitação, ou na hesitação, da existência de Deus. O pressuposto de Nietzsche de que o homem não existe como força enquanto Deus existir para o homem corrobora a tese de que Deus, ainda, existe no Reino. Encontramos implícitos nexos frutuosos com a “crise da razão” (na expressão de J. W. Burrow relativa aos finais do século XIX e início do século XX), proporcionada e ampliada pelas obras de Nietzsche, Marx e Freud, e a relação ambivalente entre Homem e Técnica (Oswald Spengler), tão determinantes, afinal, para o Modernismo e para as Vanguardas do século XX.