
Emily Dickinson e Luiza Neto Jorge são duas autoras frequentemente lidas com o Modernismo como pano de fundo, Dickinson antecipando muitos dos processos poéticos que mais tarde caracterizariam o Modernismo anglo-americano, Neto Jorge revisitando e reformulando algumas das estratégias modernistas e vanguardistas do início do século XX. Sendo esta perspectiva produtiva, mais interessante ainda é o facto de uma leitura comparada destas duas autoras permitir analisar os processos de construção da subjetividade através de uma lente queer. Ao criarem eus impessoais e, todavia, sexuados, Dickinson e Neto Jorge conseguem articular o feminino sem neutralizar o lirismo abstractizante do Modernismo, em particular, e da poesia de tradição moderna, em geral.