
Já há muito se fala no efeito de “secagem” que o génio de Pessoa e, embora bem menos, os de Sá-Carneiro e de Almada tiveram sobre outros companheiros da geração de Orpheu. Quase um século depois da sua constituição é gritante o silêncio que pesa sobre alguma produção de alguns dos seus membros – nem estudos nem edições. De Luís de Montalvor, que morreu há 65 anos, e que foi o idealizador e primeiro director português da mais famosa revista literária portuguesa, só em 1998 pude publicar o Livro de Poemas. Mas até hoje nunca ninguém reuniu ou estudou as aliás pouco numerosas prosas que ele deixou em jornais e revistas. Incidindo sobre poetas (Pessoa, Sá-Carneiro, Ronald de Carvalho, João de Castro Osório…) ou sobre a decadência, sobre a arte indígena ou sobre a arte do livro (e sobre questões de direito editorial), sobre a Peregrinação de Fernão Mendes Pinto ou sobre o regime republicano, essas prosas são fundamentais para avaliar a personalidade humana e literária daquele que, segundo Pessoa, foi o modernista “mais próximo dos simbolistas”.