
São examinados alguns sentidos e algumas consequências da definição da “palavra poética” por Graça Moura. A “palavra” resultaria “poética” graças a alguma combinação de “técnica e melancolia”. Lendo em contexto, nem “melancolia” nem “técnica” ocorrem onde e como fora combinado; e “técnica” funciona como “consciência”, ou já como predicação do sujeito pela “consciência” intencionante de um “objecto”. Transposta para um domínio figurativo entre écfrase e hipotipose (espreitar a deusa nua) tal relação entre consciência e objecto traz à tona um sujeito ipso-fálico pressuposto, que não é
estranho à relação epistémica “normal”. O ponto estaria em que a deusa nua descuidada pressentiria no seu mesmo alheamento o olhar do voyeur, ou já a consciência do voyeur, e que o seu corpo os encarnaria nolens volens. A leitura da cena pode, todavia, destacar que o sujeito ipso-fálico (sobre-identificado e genital) é uma fantasia perversa: voyeur, fetiche, fantasma “sádico” do corpo que sobrevive à “ofensa” sempre imaculado.