
No contexto dos anos cinquenta, muito marcado pelo
teatro brechtiano, Peter Szondi privilegia a noção de
crise do drama. Uma crise cuja resolução passaria pela
aproximação das escritas de teatro ao épico – através de
diferentes tratamentos do épico, de Pirandello a Arthur
Miller, passando naturalmente pela “forma épica do
teatro” elaborada por Brecht. Ora mais de cinquenta
anos depois do aparecimento da Teoria do drama moderno
(1956), existe uma outra forma de ter em conta as
mutações da forma dramática a que temos vindo a assistir
desde 1880 até à época contemporânea. Uma abordagem
– em ruptura com a dimensão teleológica do pensamento
de Szondi – que mais do que insistir na ideia de
crise do drama, destaca a questão da mudança de paradigma.
Tratar-se-á, então, recorrendo a alguns exemplos
de obras escritas entre a transição do século XX
para o século XXI, de mostrar como se opera a passagem
do drama-na-vida – ou seja, da forma dramática de
modelo aristotélico-hegeliano - para o drama-da-vida.
Drama-da-vida liberto dos antigos princípios da
ordem, da extensão, e da completude (o “belo animal”)
e trabalhado por uma pulsão rapsódica que lhe abre
todos os horizontes e o vota a um princípio fundamental
de irregularidade, o leva por vezes a roçar o monstruoso,
e põe em prática não a “superação” da forma dramática
pelas formas épicas do teatro (Szondi) mas um constante
transbordamento mútuo dos diferentes modos poéticos:
o dramático, o épico e o lírico.