
As reportagens jornalísticas de Annemarie Schwarzenbach e o importante papel que confere à imagem fotográfica, tão amplamente teorizada por Walter Benjamin e Vilém Flusser, revelam a identidade híbrida da autora, que, nas suas incessantes viagens, “transcende pátrias”, num contínuo “pairar” sobre os espaços a que se desloca, seguindo a terminologia proposta por Flusser na sua reflexão teórica. Assim, partindo das teorias de “Heimatlosigkeit” e de nomadismo de Vilém Flusser (1992), pretendo analisar a “hibridez”, “a deslocação”, o espaço do “entre” (Bhabha, 1994) da fotojornalista no texto “Die Steppe” (1939), em que a viagem pelo Afeganistão e pelo Irão surge como “a imagem concentrada da [nossa] existência” (AS), bem como no artigo “Schiffs-Tagebuch”, escrito em maio de 1941, em plena II Guerra Mundial, a bordo do navio português “Colonial”, na sua viagem entre a Europa e a África (publicado no jornal helvético National-Zeitung em novembro do mesmo ano). Finalmente, nos dois últimos artigos em apreço, escritos na África Central: “Kleines Kongo-Tagebuch I. Abschied von Leopoldville” (igualmente publicado no National-Zeitung em abril de 1941), e em “Begegnung mit dem Dschungel” (dezembro de 1941, em Die Weltwoche) claramente dá provas de se sentir “a pairar” entre dois espaços civilizacionais, entre dois tempos, permeados pela saudade (“Heimweh”) não só da Suíça, seu país natal, mas do próprio continente europeu.