
A literatura pode ser percebida a partir de determinados paradigmas considerados referenciais e a priori. No entanto, o sentimento sublime permite reconhecer o excesso e a ausência de regras pré-estabelecidas, instaurando um espaço diferenciado para a percepção da literatura em suas várias dimensões, tanto no que se refere à produção e recepção de textos literários, quanto em relação às abordagens teórico-críticas empreendidas. A proposta deste texto é a de refletir sobre a literatura de autoria feminina como espaço plural e transitório, de resistência a padrões instituídos, aproximando-a do sublime, o qual se apresenta como possibilidade de constantes deslocamentos, admitindo o ilimitado, o informe e o paradoxal. O sublime trabalha no nível da tensão e da instabilidade e visto sob o prisma literário é a expectativa do que está por vir, ultrapassando os limites do belo instituído. As categorias do belo e do sublime se distinguem na relação possível com o objeto, o primeiro possuindo a capacidade de apresentá-lo, enquanto o último o concebe sem uma regra que o especifique. A literatura de autoria feminina (como outras manifestações diferenciadas que se distingam de padrões) se estabelece como fissura/fratura de uma pretensa hegemonia literária.