
Menos estudada pelo seu valor intrínseco que como obra de transição entre dois períodos, Cinco elegias coloca-nos diante de problemas teóricos característicos da elegia, como o da desnorteante mobilidade dos seus recursos, aqui patente numa certa hesitação do próprio autor em referir-se-lhes como “elegias”, “intermédio elegíaco” ou “drama lírico”, isto é, na indecisão entre género literário e categoria estética. Se por um lado radicam no cânone elegíaco ocidental, absorvidos os seus principais topoi, estes textos consignam, por outro, relevantes inovações e ousados hibridismos, quer nesse cânone quer na obra poética de Vinicius. Desde logo o éthos dramático, que, especialmente na “Elegia desesperada”, substitui o cunho contemplativo e especulativo da elegia pela tensão dramática, ou o arrojo linguístico da “Última elegia”, que representa, nas palavras do autor, “a maior aventura lírica da minha vida”.